SpaceX recebe autorização para operar satélite na e-band

FCC Authorizes SpaceX to Provide Broadband Satellite Services
Sheila Zabeu -

Março 20, 2024

A SpaceX recebeu uma autorização parcial da Federal Communications Commission (FCC), agência dos Estados Unidos que regula as comunicações por rádio, televisão, fio, satélite e cabo, para construir, implantar e operar uma constelação de satélites de órbita não geoestacionária (NGSO), conhecida como “segunda geração” da constelação Starlink.

A concessão limita a futura comunicação às bandas de frequência de 71,0-76,0 GHz (espaço-Terra) e 81,0-86,0 GHz (Terra-espaço), coletivamente chamada de e-band, usando 7.500 satélites Starlink Gen2.

Essa autorização vai permitir que a SpaceX utilize toda a capacidade dos satélites Starlink Gen2, melhorando o serviço de banda larga oferecido nos Estados Unidos, incluindo aqueles em áreas não servidas e mal servidas do país. O uso da banda E será destinado à comunicação entre satélites e estações terrestres, e não com terminais de usuários.

No entanto, a FCC condicionou a concessão à exigência de que a SpaceX faça a coordenação do uso da banda com qualquer outra operadora que venha a também ser autorizada a operar na banda E. Além disso, a SpaceX também poderá ter de modificar suas operações para garantir a proteção dos serviços de frequências adjacentes no caso de outras operadoras passarem a operar nas mesmas bandas. Em resumo, essa autorização não garante que a SpaceX terá sempre permissão para operar como proposto no documento.

Até agora, as bandas usadas pelos satélites da SpaceX para prestar serviços de Internet banda larga são Ka (frequências de 27 GHz a 40 GHz, principal para comunicação com satélites) e Ku (12 GHz a 18 GHz). A SpaceX também foi autorizada a usar a banda V usando até 7.500 satélites Starlink Gen2, em vez de implantar um sistema de banda V separado. A SpaceX está autorizada a operar na banda V com os satélites Gen2 (bandas 37,5-40,0 GHz e 40,0-42,0 GHz para espaço-Terra e 47,2-50,2 GHz e 50,4-51,4 GHz para Terra-espaço).

Em outubro passado, a SpaceX apresentou à União Internacional de Telecomunicações (ITU) um pedido para operar uma constelação de cerca de 30 mil satélites em 288 planos orbitais e variadas altitudes entre 350 km e 614 km. A rede, denominada ESIAFI II, planeja utilizar frequências de banda W para serviços fixo e móvel por satélite. A solicitação foi feita por meio da ilha de Tonga, na região do Pacífico, como base regulatória. As informações são do site Space Intel Report.

Em busca de mais velocidade

Até meados de março de 2024, havia 5.591 satélites Starlink em órbita (3647 de primeira geração e 1944 de segunda geração); desse total, 5.529 estavam operacionais orbitando a cerca de 550 km da superfície terrestre, de acordo com o site do astrônomo Jonathan McDowell, que rastreia constelações. A Starlink tem um mapa interativo detalhando os locais onde os satélites estão disponíveis e quais áreas estão em lista de espera e quais deverão ter cobertura em breve.

Atendendo mais de 2,5 milhões de clientes em todo o mundo, o serviço oferecido pela Starlink é atualmente mais lento do que a maioria das redes de fibra terrestre costuma oferecer, com latência média superior a 30 milissegundos, na melhor das hipóteses, e o dobro em horários de pico. Elon Musk afirmou que o principal objetivo da Starlink tecnicamente falando é fazer oferecer latência média inferior a 20 milissegundos.

Para atingir essa meta, a Starlink apresentou uma carta à FCC solicitando permissão para operar uma constelação VLEO (Very Low Earth Orbit) em altitudes mais baixas, na faixa de 340 km a 360 km, e assim encurtar a distância para a transferência dos dados e consequentemente reduzir a latência.

Declaradamente no documento, a Starlink argumentou que operar em altitudes mais baixas permitirá prestar serviços de satélite de melhor qualidade e menor latência, acompanhando a crescente demanda por esse tipo de conectividade em tempo real para aplicações como trabalho remoto, educação à distância, telessaúde e resposta a emergências. Além disso, a menor latência é particularmente importante para áreas rurais e remotas que não contam com banda larga terrestre e para redes terrestres de banda larga que dependem de backhaul por satélite.

A Starlink também citou que a probabilidade de colisão de satélites de segunda geração em camadas inferiores é muito inferior à dos seus satélites que operam em órbitas mais altas. Além disso, desorbitar satélites demoraria uma questão de semanas, não apenas no período pós-implantação, mas também durante toda a vida útil dos satélites.

A FCC repetiu uma resposta negativa já dada a outro pedido da Starlink em dezembro de 2022. Naquela ocasião impôs limitações para proteger outras operadoras terrestres e de satélites contra interferências e para manter um ambiente espacial seguro ao promover a concorrência e proteger o espectro e os recursos orbitais para utilização futura.

Na resposta de 8 de março, a FCC reiterou que a Starlink não estaria autorizada a implantar satélites em órbitas muito baixas, especificamente abaixo das altitudes operacionais da Estação Espacial Internacional, que pode atingir até 370 km.

Em entrevista ao site IEEE Spectrum, John Crassidis, professor de engenharia mecânica e aeroespacial da Universidade de Buffalo, afirma não estar convencido de que satélites VLEO seriam tão prejudiciais. “Acho que a FCC pode estar exagerando. Saberemos onde estão todos os satélites, poderemos observá-los e evitá-los”, explica.

Quem discorda dessa ideia comenta que as órbitas mais baixas estão quase vazias em comparação às mais altas, mas há riscos de colisões com satélites em trânsito até suas altitudes operacionais e mesmo objetos em queda descontrolada. Esse é o caso de Hugh Lewis, professor de astronáutica da Universidade de Southampton, no Reino Unido. “Não entendemos suficientemente os riscos, especialmente porque o número de satélites que a SpaceX está propondo é maior do que o que já foram lançados”, diz ele.