Aumenta o ativismo contra o crescimento acelerado dos data centers

Estão crescendo ao redor do mundo movimentos contra o crescimento desacelerado dos data centers diante da também expansão acelerados das iniciativas de Inteligência Artificial. Esses protestos estão se tornando um problema em nível global motivados pelo ativismo local, preocupações ambientais e energéticas e até mesmo a visão dos investidores.

Tendo recebido até uma nomenclatura especial em inglês – “NIMBYism” (Not In My Backyard – Não no meu jardim), o fenômeno costuma refletir a conscientização e a oposição de moradores às implicações da construção e operação dos data centers em suas regiões.

Um exemplo emblemático de uma movimento mais amplo, além de residentes, aconteceu em 2 de junho, no estado norte-americano da Virginia, considerada a capital mundial dos data centers. Membros da comunidade e ativistas se reuniram para protestar contra a expansão descontrolada e prejudicial dos data centers na região. O evento teve como objetivo elevar a conscientização sobre as crescentes ameaças impostas pelo crescimento explosivo dos data centers e pedir uma política de proteção aos tomadores de decisão.

Segundo a organização do evento, Virginia reúne atualmente mais de 300 data centers operacionais e já está em andamento a proposição de construção de novas instalações. Hoje, esses data centers consomem quase 25% da energia fornecida, e a expectativa é que essa demanda dobre, o que deve gerar aumento do valor das contas de luz para as famílias de Virgínia, bem como induzir a construção de novas usinas de combustível fóssil, ameaçando os avanços climáticos do estado e a saúde pública da comunidades de justiça.

Além dos Estados Unidos

No Reino Unido, com a entrada recente do Partido Trabalhista no governo, já se desenha um cenário em que restrições ao planejamento de novos data centers serão relaxadas, provavelmente de olho em investimentos internacionais. No entanto, com a crescente conscientização sobre os impactos da indústria de data center e sua enorme demanda energética, isso precisará ser feito de forma a não atrair a antipatia da comunidade que pode começar a perceber os data centers como parasitas que sugam recursos naturais.

Em outras regiões europeias, projetos de data center têm gerado tensão com moradores locais por sobrecarregar redes elétricas e interferir na produção agrícola, No caso de Portugal, chegaram até a derrubar integrante de governo. Em 2023, o primeiro-ministro António Costa foi forçado a renunciar em meio a alegações de corrupção relacionadas, em parte, ao projeto de um data center. Na Holanda, grupos agrícolas estão lutando contra a construção de novos data centers.

Na Irlanda, país em que os data centers foram responsáveis ​​por 21% do consumo total de eletricidade em 2023, o acolhimento a esse tipo de instalações foi aceito inicialmente, visto como um sinal de investimento, mas parece que a atitude está mudando com a evidência dos impactos no sistema elétrico nacional, segundo matéria publicada no site Racounter.

A Irlanda aprovou recentemente uma moratória parcial para novos data centers, mas os projetos ainda estão sendo aprovados. Os provedores na Irlanda também começaram a solicitar permissão de planejamento para infraestruturas próprias de energia movida a combustível fóssil que, embora possam ajudar a diminuir a sobrecarga sobre as redes elétricas, contribuem para as emissões do país.

Quais as possíveis respostas

É claro que os data centers não são uma figura do mal e, pelo contrário, são responsáveis por grande parte do que os residentes recebem como benefício na forma dos mais variados serviços digitais. No entanto, há quem sugere ações pode parte dos projetistas e operadores de data centers para convencer as comunidades do lado bom dessas instalações.

Quais são algumas dessas iniciativas? Pode-se pensar em tornar os data centers mais silenciosos e esteticamente mais atraentes na fase da construção, bem como converter estruturas existentes em data centers em vez de construir novos do zero, ajudando assim a reduzir preocupações ambientais. Também podem ser encontradas maneiras de elevar os níveis de sustentabilidade energética e hídrica das operações dos data centers e buscar maneiras de aumentar a empregabilidade dos moradores locais tanto na fase de construção quanto de operação dos data centers.