Google usa energia geotérmica em data centers

Geothermal Business
Sheila Zabeu -

Novembro 30, 2023

Em um projeto inédito na busca de acelerar a transição de seus data centers e escritórios para energias limpas em escala mundial até 2030, descarbonizando seus sistemas elétricos, o Google iniciou recentemente o uso de energia geotérmica com novas técnicas para aproveitar o calor do interior da crosta terrestre para gerar eletricidade.

A iniciativaé resultado de uma parceria com a startup Fervo estabelecida há dois para complementar outras fontes de energia limpa, como a solar e a eólica, usadas pelo Google. O projeto geotérmico se tornou operacional no final de novembro e está fornecendo eletricidade livre de carbono para a rede local que serve os data centers do Google em Nevada, nos Estados Unidos.

A nova usina geotérmica da Fervo envia energia para outra usina próxima, que a repassa para rede que alimenta os data centers do Google. A Fervo usa a tecnologia de fraturamento hidráulico (fracking) da indústria de petróleo e gás para criar fraturas entre poços profundos. Em seguida, bombeia água em um circuito para aproveitar esse calor. Segundo o site Fast Company, foram cavados dois poços de 2,5 km de profundidade em Nevada e perfurados 1 km horizontalmente para conectá-los. A água quente vinda de rochas quentes e porosas aquecidas pela atividade tectônica produz vapor que aciona uma turbina para gerar eletricidade.

Como parte do acordo com o Google, também devem ser desenvolvidas soluções de Inteligência Artificial e aprendizagem de máquina para elevar os níveis de produtividade da próxima geração de energia geotérmica.

A energia geotérmica é uma opção viável em muitas áreas onde não há disponíveis outras fontes de energia renováveis. Além disso, ao contrário das fontes solares e eólicas que geram energia apenas em alguns períodos do dia ou em certas condições climáticas, as centrais geotérmicas são capazes de fornecer um fluxo constante de energia. O Departamento de Energia dos Estados Unidos informou que a energia geotérmica pode fornecer até 120 gigawatts de capacidade de geração confiável e flexível até 2050 e assim gerar mais de 16% da demanda prevista de eletricidade dos país.

Apesar disso, a energia geotérmica ainda não é amplamente utilizada, porque as tecnologias tradicionais hoje só podem ser implementadas em áreas onde o calor subterrâneo está facilmente acessível.

Segundo o Google, o projeto em Nevada é apenas um passo da jornada da adoção de energia geotérmica. A empresa anunciou recentemente outra parceria com a InnerSpace, organização sem fins lucrativos que se dedica a acelerar o uso desse tipo de energia limpa. A colaboração reúne experiência e recursos subterrâneos da InnerSpace com dados e software do Google para, entre outras iniciativas, desenvolver uma ferramenta global de mapeamento e avaliação de recursos geotérmicos.

Origem em fontes não renováveis

Tim Latimer, cofundador da Fervo, iniciou sua carreira na indústria de petróleo e gás. Em entrevista à TIME, o executivo explicou como encontrou uma maneira de usar a tecnologia de setor que explora fontes não renováveis de energia para explorar bacias naturais realmente quentes, rasas e produtivas de forma rentável.

Em vez de perfurar poços verticais e deixar fluir a água entre os poços de injeção e os poços de produção, como se faz tradicionalmente, a tecnologia da Fervo perfura cerca de 2,5 km de profundidade e, em seguida, faz perfurações horizontais por cerca de 1,5 km. Em seguida, deixa fluir a água de um poço horizontal para outro ao lado a várias centenas de metros. Segundo Latimer, isso resolve alguns dos desafios econômicos e permite ir a lugares mais profundos.

“A indústria de petróleo e gás foi uma importante parte da minha vida (…), mas quanto mais me apaixonava pelo assunto das mudanças climáticas, mais queria realmente procurar novas soluções(…). Comecei a pensar como alguém da indústria do petróleo e gás poderia aplicar suas competências para abordar essas mudanças. Quando descobri a fonte geotérmica, fiquei muito animado. Esse é um campo que precisa de engenheiros de perfuração, mas para produzir uma fonte de energia livre de carbono”, explica Latimer.

Depois do projeto de Nevada, relativamente pequeno, as próximas instalações da Fervo serão quase 100 vezes maiores. A meta é alcançar 400 megawatts em uma planta em Utah que será construída  nos próximos quatro anos e atingir 20% do fornecimento de eletricidade nos Estados Unidos até 2050. E, por que não, reproduzir a idea em várias outras parte do mundo, completa Latimer.