Rede de sensores imita funcionamento do cérebro

The tiny sensors could efficiently collect information from the brain (Credit: Nick Dentamaro/ Brown University)
Sheila Zabeu -

Abril 26, 2024

Pesquisadores da Brown University, nos Estados Unidos, apresentaram uma rede de sensores projetada para que seus chips possam ser implantados no corpo ou integrados em dispositivos vestíveis. A rede de comunicação pode transmitir, receber e decodificar dados com eficiência.

Segundo o estudo, cada sensor de tamanho submilimétrico imita os neurônios do cérebro e se comunica por meio de picos de atividade elétrica. Pode detectar eventos específicos e transmitir dados em tempo real usando ondas de rádio. Os eventos que os sensores identificam e transmitem podem ser ocorrências específicas, como mudanças no ambiente que estão monitorando, tais como flutuações de temperatura ou a presença de determinadas substâncias.

“Nosso cérebro funciona de forma muito esparsa. Os neurônios não disparam energia o tempo todo. Compactam informações e as distribuem de forma esparsa, o que os torna muito eficientes. Estamos imitando essa estrutura em nossa abordagem de telecomunicação sem fio”, explica Jihun Lee, pesquisador de pós-doutorado na Brown University e principal autor do estudo.

De acordo com Lee, os sensores não enviam dados o tempo todo, mas apenas dados relevantes conforme for necessário, como pequenas rajadas de picos elétricos, e são capazes de fazê-lo independentemente dos outros sensores e sem coordenação por um receptor central. Ao fazer isso, é possível economizar energia e não inundar o hub receptor com dados menos importantes.

Os sensores são capazes de usar o mínimo de energia e, além disso, os transceivers externos fornecem energia a eles à medida que transmitem dados. No entanto, isso significa que precisam estar dentro do alcance das ondas enviadas pelos transceivers para serem carregados de energia. Essa capacidade de operar sem a necessidade de estar conectado a uma fonte de energia ou bateria torna os sensores convenientes e mais versáteis para uso em diferentes situações.

Esse esquema de transmissão de radiofrequência também torna o sistema escalável e resolve um problema comum nas atuais redes de comunicação de sensores, a sincronização perfeita para funcionar bem. Os idealizadores dos sensores dizem que esse avanço pode futuramente ajudar a moldar a forma como se coletam e interpretam informações a partir desses chips, especialmente porque sensores estão se tornando omnipresentes.

“Vivemos em um mundo de sensores. Eles estão por toda parte, certamente em nossos automóveis, em muitos locais de trabalho e cada vez mais em nossas casas. O ambiente mais exigente para esses sensores será o interior do nosso corpo humano”, destaca Arto Nurmikko, professor da Escola de Engenharia da Brown University e autor sênior do estudo.

Os pesquisadores acreditam que a solução poderá ajudar a estabelecer as bases para a nova geração de sensores biomédicos implantáveis e vestíveis.

Como foram feitos os testes

A equipe projetou e simulou a eletrônica em um computador e trabalhou em diversas fases de fabricação para produzir os sensores. O trabalho se baseia em pesquisas anteriores do laboratório de Nurmikko na universidade, que introduziu um novo tipo de sistema de interface neural chamado “neurogrãos”.

Foram avaliados a eficiência do sistema e quanto poderia ser ampliado. Nesses testes, foram reunidos 78 sensores em laboratório que se mostraram capazes de coletar e enviar dados com poucos erros, mesmo quando faziam a transmissão em momentos diferentes. Por meio de simulações, foi possível demonstrar como decodificar dados coletados do cérebro de primatas usando cerca de 8 mil sensores hipoteticamente implantados.

O próximo passo é fazer a otimização do sistema para reduzir o consumo de energia e explorar aplicações mais amplas além da neurotecnologia. O trabalho foi divulgado na  Nature Electronics.

Sensores semelhantes à pele

Outro artigo também publicado na Nature recentemente relatou um trabalho da Universidade de Stanford concentrado em eletrônicos elásticos semelhantes à pele realizado há mais de uma década. Agora foi apresentado um novo processo de projeto e fabricação desses circuitos que são cinco vezes menores e operam a velocidades mil vezes mais altas do que as versões anteriores. Os pesquisadores demonstraram que é possível acionar uma tela de micro-LED e detectar uma matriz em Braille de forma mais sensível do que a ponta dos dedos humanos.

O núcleo dos circuitos são transistores extensíveis feitos de semicondutores de nanotubos de carbono e materiais eletrônicos elásticos macios desenvolvidos no laboratório da universidade. Ao contrário do silício, duro e quebradiço, os nanotubos de carbono imprensados entre materiais elásticos têm uma estrutura semelhante a uma rede que lhes permite continuar funcionando quando esticados e deformados.

“São muitos anos de desenvolvimento de materiais e engenharia. Não precisávamos apenas desenvolver novos materiais, mas também o projeto do circuito e o processo de fabricação. Existem muitas camadas empilhadas e, se uma camada não funcionar, temos que reiniciar tudo do zero”, explica Zhenan Bao, professora de engenharia química em Stanford e principal autora do artigo.

Em uma demonstração do novo design eletrônico extensível, foi possível acomodar mais de 2.500 sensores e transistores em um centímetro quadrado, criando um conjunto táctil de matriz ativa 10 vezes mais sensível do que as pontas dos dedos humanos. Os pesquisadores mostraram que o conjunto de sensores pode detectar a localização e a orientação de formas minúsculas ou reconhecer palavras inteiras em Braille.