Demanda global de data centers por energia pode duplicar até 2026

Nos últimos anos, os data centers têm recebido holofotes nas discussões sobre consumo de energia em diversos cenários. Mais especificamente, em 2024, ganhou uma seção específica no relatório da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA) sobre o setor elétrico publicado regularmente desde 2020. Na edição deste ano, o estudo apresentou uma seção dedicada à análise dos fatores impulsionadores do consumo de eletricidade dos data centers e revelou que a demanda global desses ambientes pode duplicar até 2026.

Nos data centers, a energia é consumida principalmente por dois processos: o processamento de dados em si, responsável por 40%, e o resfriamento do ambiente, com outros 40%. Os demais 20% são usados por equipamentos de TI associados. A estimativa da IEA é que data centers, criptomoedas e Inteligência Artificial (IA) tenham consumido cerca de 460 TWh de eletricidade em nível mundial no ano de 2022, quase 2% da demanda global.

Ainda que seja difícil prever tendências, visto que tecnologias digitais evoluem rapidamente, a IEA estima que o consumo mundial de eletricidade dos data centers, criptomoedas e Inteligência Artificial varie entre 620 TWh e 1.050 TWh em 2026, com um cenário-base de pouco mais de 800 TWh.

Em termos geográficos, há atualmente mais de 8.000 data centers distribuídos pelo mundo, com cerca de 33% localizados nos Estados Unidos, 16% na Europa e perto de 10% na China. A expectativa da IEA é que o consumo de eletricidade dos data centers em solo norte-americano cresça mais rapidamente nos próximos anos, indo de cerca de 200 TWh em 2022 (cerca de 4% da demanda do país), para quase 260 TWh em 2026 (6%). Esse aumento deve ser  impulsionado pela maior adoção das redes 5G e serviços baseados na nuvem, bem como por incentivos fiscais dos estados.

Na China, a demanda energética dos data centers deve atingir cerca de 300 TWh até 2026. Uma importante fonte de crescimento deve ser a rápida expansão das redes 5G e da Internet das Coisas (IoT).

Na União Europeia, o consumo estimado de eletricidade pelos data centers ficou ligeiramente abaixo de 100 TWh em 2022, quase 4% da demanda da região. Cerca de 1.240 data centers operavam na Europa em 2022, a maioria concentrada nos centros financeiros de Frankfurt, Londres, Amsterdam, Paris e Dublin. O consumo de eletricidade pelos data centers na União Europeia deve atingir quase 150 TWh até 2026.

Em particular, o mercado de data centers na Irlanda está se desenvolvendo rapidamente. A demanda de eletricidade desses ambientes foi de 5,3 TWh em 2022 (17% e o equivalente à energia consumida por edifícios residenciais urbanos). Seguindo nesse ritmo, o consumo poderá duplicar até 2026. O número de data centers da Irlanda, atualmente em 82, deve crescer 65% nos próximos anos, com 14 unidades em construção e 40 com planos já aprovados. A razão para tal crescimento? A Irlanda tem uma das taxas de impostos mais baixas da União Europeia (12,5% versus taxa média de 21,5% entre os países europeus da OCDE).

Já a Dinamarca hospeda atualmente 34 data centers, metade deles localizada em Copenhagen. A demanda dos data centers por energia também deve crescer nesse país e atingir 6 TWh até 2026, pouco menos de 20% da procura total. A Dinamarca se destaca por ser o centro de uma iniciativa europeia, o Net Zero Innovation Hub for Data Centers, um espaço de colaboração entre fornecedores, operadores e governos em torno da inovação e da descarbonização do setor.

Nos Estados Unidos, os data centers estão localizados, em grande parte, na Califórnia, no Texas e na Virgínia. Neste último caso, a economia foi dominada em 2021 pela expansão do setor de data centers, atraindo 62% dos novos investimentos do estado e gerando mais de 5.000 novos empregos.

E como fica a legislação?

No quesito legislação, a União Europeia endureceu as regras. A Diretiva Revisada de Eficiência Energética aplicada ao setor de data centers vai exigir mais transparência e responsabilização a fim de aprimorar a gestão da demanda energética. Já a partir de 2024, os operadores de data centers serão obrigados a emitir relatórios sobre a utilização de energia e emissões. Instalações de grande porte deverão ter aplicações de recuperação de calor residual e garantir neutralidade climática até 2030.

Nos Estados Unidos, a Lei de Energia de 2020 exige o desenvolvimento de métricas para eficiência energética de data centers e que órgãos governamentais mantenham um programa voltado a práticas energéticas de data centers e uma iniciativa com dados abertos sobre o uso de energia em data centers de propriedade e operação federais.

Os órgãos reguladores chineses vão exigir que os data centers contratados por organizações públicas melhorem a sua eficiência energética e sejam inteiramente alimentados por fontes renováveis até 2032, começando pela proporção de 5% em 2023.