Uso de dados pelas cidades inteligentes crescerá mais de 140% até 2027

Smart city, 5g, internet and networking technology
Sheila Zabeu -

Março 16, 2023

Hoje, 55% da população mundial vive em áreas urbanas, parcela que deve chegar a 68% até 2050. Apenas nos Estados Unidos, essa porcentagem já está em 83% e deve atingir 89% no mesmo ano, segundo a Organização das Nações Unidas. Diante desse cenário assustador por seus números e por suas potenciais consequências, devemos contar com a inovação para que esses ambientes ofereçam qualidade de vida e sejam mais saudáveis e também mais sustentáveis. Para isso, precisam ser mais inteligentes.

Mais do que simplesmente blocos de cimento, asfalto, postes e cabos, as cidades precisam de um elemento essencial  para ganharem inteligência: dados. A expectativa é que o uso de dados pelas cidades inteligentes cresça mais de 140% no período entre 2023 e 2027, segundo relatório da consultoria Kaleido Intelligence que estuda o mercado de conectividade. E, com os dados, veremos mais e mais conexões celulares nos projetos de Internet das Coisas (IoT) nas cidades inteligentes, que devem aumentar a uma taxa composta anual de 17,9% entre 2022 e 2027, atingindo o patamar de mais de 122 milhões, com um crescimento particularmente alto nos próximos dois anos.

O maior número de conexões será encontrado nas aplicações de iluminação inteligente. A previsão é de que mais de 161 milhões de luzes estarão interligadas a uma conexão celular. Segundo a Kaleido Intelligence, muitas serão atendidas por gateways, com uma única conexão celular retransmitindo dados de e para muitas luzes, que dependerão de tecnologia não celular nos endpoints. Isso enfatiza a necessidade de protocolos de dados interoperáveis para simplificar a transferência de dados entre tecnologias.

Um tráfego de dados relativamente alto deve percorrer essas conexões, mesmo quando for implantada uma LPWAN, devido ao número de endpoints nas redes. Isso exigirá Edge Computing eficaz para limitar o fluxo de dados — em alguns casos, o estudo estima que isso reduzirá a transferência de dados em mais de 80%.

A gestão inteligente de tráfego será responsável por gerar a maior receita de conectividade, principalmente por conta do uso de vídeo. A receita por tempo de transmissão nesse setor deve exceder US$ 900 milhões até 2027, em comparação com o valor de US$ 292 milhões em 2022.

“A gestão inteligente de tráfego representa, por vários motivos, um dos principais elementos das cidades inteligentes. As decisões de roteamento de tráfego podem ser baseadas em dados de qualidade do ar e disponibilidade de estacionamento. No entanto, deve-se tomar cuidado para cumprir a legislação de privacidade de dados e outras leis relevantes, que exigirão redes inteligentes para direcionar os dados apenas com base na necessidade de conhecimento”, observa James Moar, autor da pesquisa da Kaleido Intelligence.

Ainda segundo o estudo, Europa e o Leste Asiático são os maiores mercados para as tecnologias relacionadas às cidades inteligentes, que estão ocupando as agendas dos governos em função das iniciativas de sustentabilidade presentes no planejamento e nas operações municipais.

Necessárias, mas não suficientes

O conceito das cidades inteligentes tem-se mostrado necessário para o futuro das sociedades em todo o mundo, mas não suficiente. Iluminação e até coleta de lixo inteligentes, controle de tráfego e carros autônomos são alguns dos exemplos de tecnologia que certamente vão compor o cenário das cidades no futuro, no entanto, não representam a solução definitiva. É preciso ir além.

Segundo artigo do Fórum Econômico Mundial sobre a transformação urbana, em um mundo em constante mudança, as cidades precisam ser dinâmicas e adaptáveis. Cidade adaptáveis se propõem a equilibrar vida e meios de subsistência, resiliência e sustentabilidade, além de todas as condições políticas, econômicas, sociais, tecnológicas, legais e ambientais que precisam ser continuamente analisadas e ajustadas na prática.

Há três etapas principais para se desenvolver uma cidade adaptável:

1. Estabelecer uma visão do que é uma cidade adaptável, que pode variar de caso a caso. Algumas características são fundamentais e devem estar presente em todas as cidades, como a capacidade de se adaptar, obviamente.

Um exemplo de adaptabilidade é o gerenciamento dinâmico do meio-fio. As cidades de hoje administram os meio-fios, sinalizando e restringindo-os a determinados usos específicos, como estacionamento de carros e bicicletas, entregas ou até mesmo carregamento de veículos elétricos, em grandes centros urbanos. Já existem soluções que permitem fazer a administração dinâmica baseada em dados do meio-fio com preços variáveis, dependendo da hora ou de outros fatores.

2. Projetar a adaptabilidade, considerando tanto elementos digitais quanto físicos da arquitetura da cidade. A adaptabilidade no universo do software pode usar abordagens como computação em nuvem, Inteligência Artificial, gêmeos digitais, redes definidas por software, entre outras. Já a adaptabilidade física pode ser alcançada com abordagens, como design e construção modulares, design multifuncional, robótica, drones e técnicas de integração e interoperabilidade rápidas ou provisionamento dinâmico.

3. Construir ou renovar a infraestrutura da cidade com agilidade intrínseca. Os facilitadores digitais e físicos citados acima vão ajudar a ter agilidade intrínseca e garantir a adaptabilidade de projeto por toda a vida operacional. Em termos de integração, é importante usar um modelo de plataforma em que mais elementos tecnológicos possam se conectar e ser usados, de maneira semelhante às lojas de aplicativos para celulares. Isso garantirá capacidade de inovação à cidade adaptável e mais serviços para os cidadãos.

Com esses blocos de construção tecnológicos compondo a cidade adaptável, podemos até imaginá-la como uma empresa de software, que também terá o desafio de manter a governança e a orquestração do modelo de plataforma, conclui o artigo.