União Europeia financia estudo para levar data centers ao espaço

NTT Space Integrated Computing Network
Sheila Zabeu -

Novembro 30, 2022

A Comissão Europeia, órgão executivo composto por 27 membros, está buscando entender a viabilidade de levar data centers para a órbita espacial. O estudo será realizado pela Thales Alenia Space, joint-venture entre Thales Group e Leonardo (33%), ambas empresas com experiência nos setores aeroespacial, de defesa e segurança, como parte do amplo programa de pesquisa Horizon Europe do bloco, com um orçamento de € 95,5 bilhões.

A pegada ambiental das tecnologias digitais está se tornando um grande desafio para a Europa. As crescentes iniciativas de digitalização estão fazendo com que data centers na região, assim como em todo o mundo, se ampliem em um ritmo exponencial, o que, por sua vez, gera enormes impactos energéticos e ambientais.

O novo projeto, batizado de ASCEND (Advanced Space Cloud for European Net zero emission and Data sovereignty – Nuvem Espacial Avançada da Europa para Emissão Zero Líquida e Soberania de Dados), visa encontrar uma solução ambiciosa para a Europa, instalando estações de data center na órbita da Terra, que serão alimentadas por usinas de energia solar capazes de gerar várias centenas de megawatts. O único link com o solo terrestre seriam conexões de Internet de alto desempenho usando comunicação óptica, técnica para a qual a Europa domina as tecnologias subjacentes, segundo o Thales Group.

A pesquisa vai avaliar se as emissões de carbono provenientes da produção e lançamento das infraestruturas espaciais serão significativamente inferiores às geradas pelos data centers terrestres. Também buscará analisar se é possível desenvolver a solução de lançamento necessária e garantir a implantação e a operacionalidade dos data centers espaciais usando tecnologias de assistência robótica atualmente em desenvolvimento na Europa, como o demonstrador EROSS IOD.

O ASCEND pretende ajudar a atingir a meta da Europa de alcançar neutralidade de carbono até 2050 e também seria um avanço sem precedentes no espaço e no ecossistema digital europeus, de acordo com o consórcio. Espera-se que o trabalho demonstre até que ponto os data centers espaciais limitariam os impactos energéticos e ambientais dos seus homólogos terrestres, justificando assim investimentos futuros.

Outras empresas que farão parte do grupo de estudo, com especialização em áreas complementares são Carbone 4, VITO (ambiental), Orange, CloudFerro, Hewlett Packard Enterprise Bélgica (computação em nuvem), ArianeGroup (veículos de lançamento) e DLR, Airbus e Thales Alenia Space (sistemas orbitais).

Japoneses na corrida

Em maio de 2021, as japonesas NTT Corporation e SKY Perfect JSAT anunciaram uma cooperação para criar uma nova empresa do setor espacial com a missão de garantir uma sociedade mais sustentável. O trabalho conjunto pretende construir uma nova infraestrutura de TI e telecomunicações no espaço.

Nessa iniciativa, a NTT ficará responsável pelas infraestruturas terrestres, enquanto a SKY Perfect JSAT responderá pelas tecnologias espaciais, entre elas as de comunicação e transmissão via satélite. A infraestrutura espacial quer integrar várias órbitas em alta altitude, órbitas terrestres baixas e órbitas geoestacionárias. Será conectada ao solo por redes ópticas de comunicação sem fio para formar uma constelação, com data centers distribuídos para garantir alto desempenho.

Os data centers alojados em satélites poderiam, por exemplo, coletar imagens e, em vez de transmitir os dados para o solo para processamento, fariam o trabalho em órbita, enviando apenas os resultados de maior valor agregado. Resultado? Redução de tempo e de custos.

Data centers alojados em satélites
Fonte: NTT

As empresas estão se preparando para lançar os satélites e iniciar a comercialização dos serviços em 2025.

Também na Lua

Em abril deste ano, a startup Lonestar Data Holdings anunciou que vai instalar uma série de data centers até a superfície lunar e, para isso, já contratou duas primeiras missões para levar os primeiros equipamentos.

A Lonestar vê a Lua como um local ideal para atender um segmento premium do setor de armazenamento de dados e, ao mesmo tempo, propor soluções para as principais questões ambientais geradas pelo crescimento das instalações de data centers ao redor do mundo.

Também nos rios

A startup francesa Denv-R quer produzir data centers flutuantes com resfriamento usando as águas de rios urbanos. O objetivo, segundo os dois fundadores da empresa, é reduzir o consumo de energia em 40% e as emissões de CO2 também em 40%.  A primeira demonstração deve ocorrer no rio Loire, na cidade de Nantes, em junho de 2023.

A solução usará um sistema de circuito fechado, sem bombeamento de água e sem sistema de ar condicionado. Ficará alojada em uma estrutura flutuante feita de aço reciclável. “Os data centers devem idealmente estar o mais próximo possível dos usuários e, portanto, nas cidades. No entanto, a terra é escassa e cara nas cidades. Na água, há espaço. Não vamos artificializar o solo, nem precisaremos criar lajes espessas em edifícios”, diz Vincent Le Breton, um dos fundadores da Denv-R ao site 20 Minutes. Com 10 metros de comprimento, 8 metros de largura e 3 metros de altura, as instalações vão usar fontes de alimentação autônomas, como painéis solares.

Segundo seus idealizadores, a primeira versão custará € 900 mil, sendo € 500 mil para fabricação. Afirmando ser mais barato do que seus pares terrestres, a Denv-R diz ter capacidade para receber pedidos com rapidez, inclusive do mercado internacional.