Tecnologias digitais ajudam a levar cuidados hospitalares para casa

Senior Man In Dressing Gown Using Walking Frame Being Helped By Female Nurse With Digital Tablet
Sheila Zabeu -

Maio 03, 2023

Em uma conferência realizada no final de abril pela Fortune Magazine, cujo tema foi “Aventurando-se pelo Desconhecido”, um dos temas principais foi a tendência de levar cuidados hospitalares para a casa dos pacientes. E as tecnologias desempenham um papel relevante nessa mudança.

Esse é um movimento que tem ganhado força nos Estados Unidos, principalmente após a pandemia de Covid-19 e envolve não apenas cuidados hospitalares, mas um conceito mais amplo de assistência domiciliar. Com ele, busca-se melhorar os tratamentos de saúde, proporcionando aos pacientes uma atmosfera mais aconchegante, próximos dos familiares, sem abdicar dos recursos técnicos de diagnóstico e monitoramento, muitas vezes disponíveis apenas em ambientes hospitalares ou de ambulatórios.

Muitos equipamentos usados em hospitais não são tão complexos ou difíceis de usar e podem ter réplicas em casa contando com novas tecnologias. “Podemos conectar muitos dispositivos por meio de Wi-Fi a plataformas de monitoramento a distância. Podemos gerenciar e monitorar esses dispositivos e definir alertas que avisam quando há algo diferente”, exemplificou Jean Olive, diretora de tecnologia da Best Buy Health durante o evento.

Quando se trata de monitoramento das condições básicas de saúde, dispositivos vestíveis que controlam batimento cardíaco, padrões de sono e oxigenação, por exemplo, já ganharam o gosto popular e estão ajudando a aproximar a tecnologias das questões de saúde. No campo mais profissional, já existem milhares de opções em diversas categorias, que inclusive estão listadas pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, descrevendo a aplicação para monitoramento de muitos sintomas e condições, como diabetes, pressão arterial, apneia do sono, asma, entre outras.

“As pessoas querem ficar em casa, então há muitas oportunidades. Apenas temos de mudar a cultura para ampliar a adoção da tecnologia e tentar mudar alguns modelos de pagamento para esses dispositivos tecnológicos”, comenta Jean Olive.

A Mayo Clinic, importante hospital norte-americano, foi um dos primeiros dos Estados Unidos a experimentar o envio de pacientes agudos para casa para atendimento remoto há quatro anos. Hoje, são cerca de 250 programas semelhantes em todo o país. O movimento hospital-at-home foi impulsionado principalmente porque, durante a pandemia, a agência federal norte-americana que administra os programas Medicare e o Medicaid relaxou algumas regras, permitindo a expansão dos programas de cuidados hospitalares domiciliares. Essas renúncias da era pandêmica permanecerão em vigor até, pelo menos, o final de 2024, mas a expectativa é que mudanças nas políticas permitam que elas se tornem permanentes.

Obviamente, mudanças de regras não valeriam de nada se não fosse a tecnologia para viabilizar o atendimento domiciliar, que pode ser mais saudável, mais confortável e mais econômico do que em um hospital.

Dados recentes da PA Consulting mostram que 67% dos entrevistados nos Estados Unidos acreditam que a disseminação de soluções hospitalares domiciliares ajudará a economizar tempo e dinheiro para os pacientes. Também têm potencial para aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde e, consequentemente, incrementar o acesso a eles. O relatório Healthier at Home prevê que, até 2030, o mercado global de soluções de assistência médica domiciliar alcançará US$ 390,4 bilhões.

Fonte: PA Consulting

Sete em cada 10 (74%) dos líderes de saúde dos Estados Unidos disseram que suas organizações estão priorizando soluções para migrar o atendimento do hospital para os lares, incluindo ferramentas de diagnóstico, monitoramento e administração de medicamentos.

Do lado dos líderes globais de tecnologia médica e farmacêutica, 76% estão priorizando produtos e serviços para mudar o local de atendimento. Com isso, a expectativa é ver 25% a mais de produtos no mercado em 2027 do que atualmente. Mais da metade (54%) dos líderes farmacêuticos prevê que, em cinco anos, o foco das suas soluções serão produtos e serviços que complementem farmacoterapias inovadoras.

Além disso, seis em cada 10 (68%) dos entrevistados preveem que empresas de tecnologia médica e farmacêutica se tornarão parceiras confiáveis no fornecimento de soluções conectadas, com as maiores oportunidades de diagnóstico nos campos de oncologia (57%) e cardiologia (46%).

As soluções domésticas conectadas também crescerão. Três quartos (75%) dos entrevistados nos Estados Unidos disseram que estão trabalhando em soluções domésticas conectadas e preveem que a Internet das Coisas (IoT) será cada vez mais usada em casa para fornecer aos médicos dados em tempo real e apoiar a saúde preventiva, a intervenção precoce e o monitoramento das condições de saúde.

Embora estejam dispostos a apoiar essa transição, líderes de tecnologia médica e farmacêutica estão tendo dificuldades para implementar soluções escaláveis devido à complexidade do sistema de saúde e das partes interessadas. Para 70% dos entrevistados, essas empresas não entendem os sistemas de saúde e os responsáveis pelos pagamentos para poder fornecer com soluções hospitalares em casa. Para os pacientes, o atendimento hospitalar em casa pode aumentar a disponibilidade de dados reais para gerar melhores resultados de saúde (62%) e atender melhor a população idosa (49%).

A pesquisa também apontou que há um enorme problema educacional entre os médicos dos Estados Unidos. Apenas 41% estarão motivados a fazer a transição dos cuidados hospitalares tradicionais para ambientes domésticos em 5 anos. Seis em cada 10 (66%) acham que há o risco de doenças não serem identificadas devido ao menor contato com os médicos.