Sustentabilidade pressiona indústria dos data centers

green data center
Sheila Zabeu -

Novembro 01, 2022

Pressões a favor da sustentabilidade estão crescendo em vários setores de atividade, e não está sendo diferente com os data centers. No entanto, muitos operadores ainda se mostram despreparados diante do maior escrutínio de novos regulamentos e das exigências de apresentação de relatórios. Como se isso não bastasse, por conta das altas temperaturas recordes experimentadas nos últimos meses, as interrupções das operações desses ambientes estão se tornando mais frequentes e gerando prejuízos financeiros cada vez maiores. A boa notícia é que a indústria dos data centers parece estar mais resiliente.

Esse cenário foi pintado pela Pesquisa Global de Data Centers de 2022 do Uptime Institute, que reuniu relatos de proprietários e operadores de data centers, entre eles responsáveis pela gestão da infraestrutura das maiores organizações de TI do mundo. Segundo a pesquisa, ainda que questões de sustentabilidade já sejam levadas em conta pelos operadores de data centers há alguns anos, foi somente a partir de 2020 que passaram a rivalizar com resiliência como uma grande preocupação. Além disso, uma demanda associada à sustentabilidade que surgirá nos próximos anos é a exigência da publicação de relatórios com mais dados que demonstrem compromisso com um boa gestão ambiental.

Entretanto, as edições da pesquisa da Uptime Institute de 2021 e 2022 mostraram que operadores de data centers ainda têm um longo caminho a percorrer na direção da sustentabilidade. Embora a maioria colete dados relacionados à eficiência energética (85%), uma parcela muito menor (37%) coleta dados relacionados a emissões de carbono. A situação piora quando os entrevistados são questionados sobre a coleta dividida por categorias – escopos 1 e 2 (energia direta e de fornecimento) ou escopos 1, 2 e 3 (emissões de parceiros na cadeia de suprimentos). Nesses casos, as parcelas que informaram coletar dados para emissão de relatórios foram mais baixos (17% e 12%, respectivamente).

Uptime Institute
Fonte: Uptime Institute

Apesar de muitos operadores estarem mal preparados, a maioria (63%) está ciente de que há uma pressão de autoridades regionais para que os data centers relatem publicamente dados de sustentabilidade nos próximos cinco anos. Dado que grande parte da legislação já está em curso mesmo em países menos regulamentados, muitos dos 37% restantes serão forçados a rever suas práticas e começar a se preparar. Notavelmente, na América do Norte apenas metade dos entrevistados espera que relatórios com métricas de sustentabilidade dos data centers se tornem obrigatórios nos próximos cinco anos.

Operators expect sustainability legislation
Fonte: Uptime Institute

De acordo com o estudo, a indústria de data centers se sente injustiçada ao ser apontada como um grande consumidor de energia e, por extensão, um grande gerador de emissões de carbono. No entanto, estima-se que os data centers sejam responsáveis pelo consumo de apenas 2% a 3% de eletricidade e cerca de 0,4% a 0,75% das emissões globais de CO2. O argumento é de que, mesmo considerando serviços on-line e aplicações consumidoras de energia, como as de blockchain, o setor TI também viabiliza importantes economias de combustível em outros setores (por exemplo, engenharia e viagens), compensando seu consumo energético.

Esse visão de que data centers são parte da solução em vez de causadores de mais problemas é compartilhada por dois terços dos operadores entrevistados pelo Uptime Institute, porém o estudo ressalta que esse ponto de vista será difícil de manter caso os relatórios de sustentabilidade acabem mostrando que os data centers desperdiçam energia.

Mais sustentáveis e resilientes

Ao longo das décadas, esforços para melhorar a sustentabilidade dos data centers abrangeram diversas tecnologias, estratégias e iniciativas, mas será que existe um fator preponderante capaz de tornar essa indústria mais sustentável nos próximos três a cinco anos?

Essa pergunta foi feita aos operadores de data centers, e duas respostas se destacaram: mais opções de compra de energia renovável, o que exigiria investimentos de geradoras e concessionárias, e melhores sistemas de resfriamento. Melhor utilização de recursos de TI – um problema que, na perspectiva do Uptime Institute, precisaria de mais atenção – foi selecionado apenas por um em cada seis entrevistados.

Na prática, nenhuma dessas técnicas operacionais e elementos energéticos serão transformadores por si só, e quase todos certamente têm um papel a cumprir. Por exemplo, ainda que os preços de energia mais elevados e mais regulamentações sejam consideradas quase certezas, mais fontes de energia renovável também devem ser somadas às redes de distribuição ao longo das décadas; outras tecnologias também surgirão, evoluirão e serão adotadas gradualmente, como hidrogênio verde e novas tecnologias de armazenamento de energia. Operadores de nuvens públicas também devem investir mais para se mostrarem mais sustentáveis.

Making data centers more sustainable
Fonte: Uptime Institute

No início de 2022, o Uptime Instituto havia previsto que operadores de data centers, em busca de fontes de energia de baixo carbono não intermitentes, mostravam-se cada vez mais a favor da energia nuclear (e até mesmo fariam alguma pressão). Mais recentemente, os resultados da Pesquisa Global de Data Centers de 2022 do Uptime Institute revelaram que operadores e proprietários de grandes data centers ao redor do mundo são cautelosamente a favor da energia nuclear. Existem, no entanto, diferenças regionais significativas, conforme apresentado no gráfico a seguir.

Industry cautiously supports nuclear
Fonte: Uptime Institute

À parte questões de sustentabilidade, uma boa notícia é que há alguns sinais de mais resiliência entre os data centers. Apesar de a não divulgação das paralisações não programadas nas operações dos data centers ainda ser a primeira reação entre a maioria das operadoras, o Uptime Institute tem observado que as interrupções se tornaram menos binárias, ou seja, as falhas agora podem ser, muitas vezes, parciais, distribuídas e dependentes das configurações, representando com menos frequência uma pane total.