Sete equívocos sobre fábricas inteligentes

Cristina De Luca -

Setembro 17, 2021

Não, ainda não existe um teste que meça o Quociente de inteligência (QI) de centros de manufatura, mas um relatório recentemente publicado pela IoT Analytics faz uma análise aprofundada de três elementos principais de qualquer projeto envolvendo fábricas inteligentes deveria considerar: processos, pessoas e tecnologia. Abordando detalhadamente 10 estudos de caso, o estudo “Smart Factories Insights Report 2021” apresenta as tecnologias implantadas e os objetivos alcançados, além de apresentar uma visão geral dos modelos de maturidade das fábricas inteligentes.

A pesquisa reuniu 80 fábricas e, a partir de pontos em comum entre elas e suas melhores práticas, definiu fábrica inteligente como “uma transformação holística de pessoas, processos e tecnologias em conjunto com uso de dados para atingir os objetivos de desempenho e negócios pretendidos por um ou mais centros de produção”.

“A ‘inteligência’ de uma fábrica é medida a partir de um conjunto de fatores. Fábricas de todas os formatos e tamanhos podem avaliar sua maturidade e dar inícios às suas jornadas, por exemplo, usando modelos de maturidade digital, como o modelo Acatech ou o modelo de avaliação I4.0 de Fraunhofer, que são discutidos no relatório. De acordo com nossa pesquisa, essa natureza amorfa das fábricas inteligentes levou a sete equívocos comuns“, afirma Sharmila Annaswamy, analista sênior da IoT Analytics.

Como o exemplo da fábrica inteligente, segundo o estudo, a Moderna demonstrou que investir em tecnologia de produção, pessoal e processos pode gerar dividendos enormes. A geração atual de fábricas inteligentes não é necessariamente caracterizada por instalações greenfield de alta tecnologia. 

Fazendo lembrar um jogo infantil em que somos desafiados a apontar sete erros em uma dupla de desenhos quase idênticos, a executiva destaca sete equívocos comuns sobre o que é necessário para tornar uma fábrica inteligente:

1.  Imaginar que fábricas inteligentes devem ser criadas do zero.
A pesquisa da IoT Analytics mostra que muitas instalações já em operação (chamadas brownfield versus greenfield, que são construídas do zero) também podem tornar-se mais inteligentes. Fornecedores de soluções de automação industrial podem ajudar nessa empreitada.

2. Somente grandes organizações podem ter fábricas inteligentes.
Ser pequeno e ter restrições orçamentárias não é motivo para desanimar. Há como ajudar empresas menores a não ficar para trás na corrida das fábricas inteligentes. Por exemplo, iniciativas sem fins lucrativos, como a Smart Factory OWL e Smart Factory KL (em alemão), permitem que os fabricantes conheçam e testem tecnologias e discutam soluções com profissionais da área. Além disso, estão surgindo modelos pay-per-use (ou as-a-service) que podem trazer o conceito e a prática de fábricas inteligentes para mais perto das PMEs.

3. Existe um modelo único para todos os tipos de fábrica.
A pesquisa identificou, não apenas um, mas oito objetivos típicos de desempenho e negócios de fábricas inteligentes, que foram agrupados em três tipos: operacional, comercial e P&D. E cada um desses grupos possui um tipo diferente de implantação.
Por exemplo, há fábricas que pretendem elevar a agilidade dos processos operacionais e assim gerar mais valor. O projeto da Moderna foi um desses casos, e seu projeto acabou resultando no pagamentos de dividendos muito elevados aos acionistas – as ações da empresa foram avaliadas em menos de U$ 20 ao final de 2019 e estão sendo negociadas em 2021 por US$ 400.

4. Iniciativas de fábrica inteligente dizem respeito principalmente à tecnologia.
É verdade que a tecnologia é uma parte essencial das fábricas inteligentes, mas não é a única peça, de acordo com a pesquisa IoT Analytics. Existem aspectos menos tangíveis, principalmente relacionados a pessoas e processos, que precisam ser abordados nos projetos.
Um conceito muito importante é a gestão de mudanças, que deve garantir processos de transformação transparentes e fazer com que os funcionários se sintam incluídos.

5. Projetos de fábrica inteligente substituem as medidas de melhoria contínua existentes.
As iniciativas de fábrica inteligente precisam trabalhar em conjunto com as soluções de melhoria de processos, como Six Sigma e Lean Manufacturing), em vez de substituí-las.

6. Transferir as iniciativas de sucesso de uma fábrica para outras é fácil.
Cada ambiente de produção tem suas particularidades e, portanto, as abordagens de fábrica inteligente costumam variar. Algumas empresas acham mais fácil experimentar primeiro algumas tecnologias e casos de uso em uma fábrica já em operação antes de construir uma nova fábrica inteligente do zero. Foi o que aconteceu com a planta da Siemens em Amberg e sua nova fábrica em Chengdu, na China. Outras empresas usam uma abordagem diferente, construindo uma nova fábrica e a adotando como elemento central em sua estratégia de fábrica inteligente.

7. Fábricas inteligentes devem ser totalmente automatizadas.
Ao contrário do que se pode imaginar, automação não é um pré-requisito de fábricas inteligentes. Dados, sim, são a base fundamental para todos os casos de uso de fábricas inteligentes, diz o estudo. São as tecnologias de captação, orquestração e análise de dados que vão permitem comandas centros de produção capazes de tomar decisões inteligentes de modo mais rápido, embasado e, portanto, melhores.

Em tempo, o mercado mundial de fábricas inteligentes deve atingir US$ 330,1 bilhões até 2028, de acordo com um novo relatório da Reports and Data. Monitoramento facilitado, redução de desperdícios e aceleração da produção são alguns dos principais benefícios buscados.

Devido à rápida mudança nas preferências do cliente e à disponibilidade de tecnologias promissoras, empresas de todas as formas e tamanhos podem (e devem) ter uma estratégia de fábrica inteligente abrangente em 2021 – independentemente de sua maturidade digital atual. A mensagem é clara: as empresas que já embarcaram em sua jornada de fábrica inteligente continuarão a se adaptar melhor ao ambiente de negócios dinâmico e a crescer mais rápido do que aquelas que não o fizeram.

E o próprio estudo da IoT Analytics dá a receita para investir no modelo de forma adequada.

  • Ponto de ação 1: concentre-se em um caso de uso e não em uma tecnologia. Dentre os muitos casos de uso que existem, escolha um caso de uso aplicável de alto ROI e alto benefício e, em seguida, experimente as tecnologias adequadas. (Observação: a IoT Analytics realizou várias análises de caso de uso de IoT e mediu o ROI de cada um.)
  • Ponto de ação 2: Não espere pelo engajamento dos funcionários. Envolva os trabalhadores da linha de frente desde o início do projeto da fábrica inteligente. Alivie suas dúvidas por meio de uma comunicação transparente e capacite-os por meio de esforços de aprimoramento de habilidades. Comunique-se, comunique-se, comunique-se.
  • Ponto de ação 3: Amarre a fábrica inteligente a uma iniciativa de melhoria de processo existente. Apoiar a iniciativa com tecnologias de fábrica inteligente para tornar os processos mais eficientes com tecnologia.

A transição para a Indústria 4.0 dependerá da adoção bem-sucedida de muitas novas tecnologias. Para acelerar a manufatura inteligente, gêmeos digitais de máquinas e operações serão uma necessidade, assim como a automação da fábrica e o controle em tempo real de equipamentos e tarefas. Por exemplo,  a fábrica da Ericsson em Tallinn demonstrou que, com a solução de problemas de realidade aumentada, a redução do tempo médio de detecção de falhas, combinada com melhor ergonomia e compartilhamento mais rápido de informações, pode aumentar a produtividade em até 50%.

A Indústria 4.0 ajudará a tornar as máquinas inteligentes mais inteligentes, as fábricas mais eficientes, os processos com menos desperdício, as linhas de produção mais flexíveis e a produtividade mais alta. Construído com base na conectividade inteligente, segura e sem fio, há oportunidades para estender a vida útil da máquina por meio da manutenção preditiva, oferecer suporte ao manuseio rápido de materiais, monitorar cada detalhe do chão de fábrica e aproveitar robôs colaborativos simultaneamente com a comunicação móvel. Isso ajudará as fábricas a atingirem seu objetivo de se tornarem uma fábrica totalmente automatizada.

Cada infraestrutura industrial tem seu próprio conjunto de requisitos de monitoramento, dependendo de como é configurada, da natureza do processo de produção e assim por diante. Na verdade, há muitas variáveis ​​que entram em jogo, portanto, certamente não há uma abordagem única para todos a ser recomendada. Em vez disso, tudo se resume a definir as metas e ações que você precisa realizar em seu ambiente. Que objetivo você precisa alcançar e o que você precisa saber para alcançá-lo.