Segurança e cadeia de suprimentos ganham atenção dos data centers

Durante o Data Center World, conferência anual da AFCOM que reúne profissionais de data centers e TI, foram realizadas apresentações, painéis de discussão e demonstrações de estudos de caso. Além disso, a AFCOM apresentou seu mais recente relatório com vários destaques do panorama atual dos data centers, entre eles temas que ganharam mais atenção, como segurança física e cadeia de suprimentos dos data centers.

Em termos gerais, ficou claro que a indústria de data centers experimenta um rápido crescimento — em 2023, o setor deve registrar 7,4 GW on-line em comparação com 4,9 GW no ano passado, segundo dados recentes da Cushman & Wakefield confirmados pelo relatório AFCOM. Além disso, há um movimento importante na direção de mercados secundários e emergentes, com hyperscale tenants e colocation providers avaliando e anunciando novos projetos em todo o mundo. No entanto, a disponibilidade de energia está cada vez mais restrita, e os custos de energia vem aumentando. 

Pela primeira vez, a segurança está no topo das preocupações dos líderes de data centers. Segurança física e/ou lógica encabeçaram a lista, com 53% dos entrevistados afirmando já ter implementado algum tipo de plano de segurança. Pelo sétimo ano consecutivo, os entrevistados mencionam ransomware (52%) como a principal ameaça, seguido por perda de dados pessoais identificáveis (PII na sigla em inglês, 39%) e ameaças humanas externas (39%). Duas ameaças específicas tiveram um aumento mais significativo: ameaças físicas contra data centers e ataques DDoS. 

Além disso, cadeia de suprimentos é um dos assuntos mais quentes nas conversas líderes e outros profissionais de data centers. O relatório da AFCOM apontou que 94% dos entrevistados tiveram, pelo menos, algum problema a superar associado à cadeia de suprimentos e que mais da metade relata alguma pressão em torno do fornecimento (59%). 

Segundo a pesquisa, esses números indicam um salto enorme em relação ao ano anterior. Quase metade dos entrevistados teve alguma paralisação no ambiente por conta de falta de peças adequadas. A AFCOM alerta para a necessidade de se preparar e identificar os melhores parceiros e empregar boas práticas em termos de suprimentos para enfrentar cenários desafiadores.

E onde as restrições de fornecendo estão sendo mais sentidas? Os entrevistados citaram equipamentos de TI (57%), sistemas de energia (51%), gabinetes (42%), sistemas de resfriamento (37%) e materiais de constrição como as cinco principais limitações de fornecimento.

Quando se fala em despesas em geral, os principais responsáveis por aumento dos gastos OpEx são associados a serviços para equipamentos e pessoal, seguidos por energia. Em relação a CapEx, as causas dos aumentos têm a ver com problemas na cadeia de suprimentos, obras em instalações existentes, atualização de ambientes de TI e investimento em novas instalações. 

Um fato destacado pela AFCOM é que o responsável do aumento de CapEx no ano anterior foi investimentos em infraestrutura das instalações existentes, enquanto hoje o aumento se deve a desafios na cadeia de abastecimento. Outro aumento notável gira em torno dos custos de serviços para equipamentos. No ano anterior, esse número ficou próximo de 47%, enquanto atualmente está em torno de 79%. A Pode-se supor que isso também se deva, em parte, a problemas com cadeia de suprimentos.

Densidade, resfriamento, ESG e mais

Não surpreendentemente, a densidade energética dos racks segue evoluindo. No ano passado, a densidade média estimada foi de 7kW em data centers primários. Em 2023, esse número saltou para 8,5kW, sendo que 60% dos entrevistados dizem que a densidade continuará mudando de forma mais significativa. O relatório da AFCOM lembra que meios para gerar níveis maiores de densidade energética são um desafio. Muitos estão tentando fazer muito mais com menos espaço, mas isso se traduz em investimentos em melhores tecnologias de resfriamento, sistemas de energia e capacidade. 

Especificamente na arena do resfriamento, o relatório da AFCOM destaca que menos de metade dos entrevistados (46%) reporta que suais atuais soluções atendem a todos os seus requisitos, mas 35% apontam que estão perdendo a capacidade de resfriamento e precisam se ajustar. Outros 18% afirmam que estão procurando novos sistemas ativamente. Para a AFCOM, esses dados foram, de certa forma, reveladores, pois estamos vendo uma indústria com dificuldade para adaptar a capacidade de refrigeração conforme o ritmo de crescimento do setor.

Em alguns casos, o resfriamento líquido é usado para tentar superar esses desafios — 38% dos entrevistados adotaram esse tipo de resfriamento e quase metade dos fornecedores para data centers (43%) já viram refrigeração líquida nas instalações de seus clientes. No total, 60% dos entrevistados afirmam já usar refrigeração líquida ou planejar implantá-la entre 12 e 24 meses. A AFCOM destaca algumas soluções interessantes de robótica, novos métodos de resfriamento líquido ou mesmo implantações híbridas em data centers e arrisca dizer que o resfriamento líquido continuará sendo um tema em evidência.

Uma boa notícia é que energia renovável está sendo adotada. Apenas 14% dos entrevistados dizem não ter um plano de energia renovável, enquanto os 86% restantes estão implantando ativamente ou planejando implantar essa categoria de energia. Os entrevistados relatam que energia solar (55%), eólica (36%) e hidrelétrica (27%) são as fontes mais favorecidas, enquanto 10% indicam que estão vendo algum movimento em torno de tecnologias nucleares, sugerindo que poderemos começam a ver de pequenos reatores modulares (SMRs) alimentando data centers.

Além de operar com energia renovável, líderes de data centers também estão realizando esforços de preservação da água. A maioria dos entrevistados acredita que eficiência hídrica continua ganhando importância (81%) e estão considerando (83%) a implementação de soluções, como sistemas de resfriamento que trabalhem com água (38%), reciclagem de efluentes (38%), tratamento de água contando com parceiros (36%), oleodutos ou projetos de engenharia civil (20%), captação de águas pluviais (11%).

De modo mais abrangente, vemos que a importância ESG está crescendo dentro dos data centers, inclusive com iniciativas voltadas para inclusão, igualdade e diversidade. A maioria dos entrevistados (69%) afirma que ESG é essencial para as organizações e as principais partes interessadas, sendo que 22% relatam ser um tema crítico em suas futuras estratégias.

No campo do armazenamento, o relatório da AFCOM descreve que o volume de dados gerados pelos data centers está crescendo, assim como a capacidade de armazenamento — 43% dos entrevistados têm uma capacidade local de armazenamento de 1 PB ou mais; a mesma parcela relata uma capacidade remota de armazenamento de 1 PB ou mais. Para atender a essa crescente demanda de dados, muitos profissionais de data centers estão adotando apenas memória flash – 38% pensando em alto desempenho e 31% usando para propósitos gerais.

Digital twins, modelagem de dados e Realidade Virtual estão se tornando cada vez mais ganhando a atenção dos profissionais de data centers — 38% dos entrevistados afirmam já ter implantado ou pretender implantar uma solução de Realidade Virtual, ou Realidade Aumentada.