Operadoras de telecom querem dividir custos de infraestrutura com Big Techs

Torre de telecomunicações com uma antena de rede celular 5G
Sheila Zabeu -

Setembro 28, 2022

Grandes operadoras europeias de telecomunicações, entre elas Deutsche Telekom, Telefonica  Orange, estão trabalhando para que as chamadas Big Techs compartilhem custos de infraestrutura de rede e assim seja possível enfrentar a crise energética e as alcançar as metas do bloco europeu associadas à mudança climática.

Segundo notícia da Reuters, o chamado ocorre enquanto a Comissão Europeia se prepara para buscar feedback de ambos os lados antes de fazer uma proposta legislativa que pode forçar as empresas de tecnologia a ajudar a pagar pela implantação de cabos 5G e de fibra em todos os 27 países da União Europeia.

A União Europeia anunciou recentemente que estaria preparando uma consulta sobre se grandes players de tecnologia, como Google, Netflix, Facebook, Apple e Amazon, deveriam contribuir com os custos das redes de telecomunicações. A avaliação também incluiria um exame detalhado sobre as tecnologias do metaverso. Defensores das Big Techs argumentam que a introdução de contribuições financeiras obrigatórias prejudicaria a neutralidade da Internet.

Na visão dos grandes executivos das empresas de telecom, é preciso investir cerca de 50 bilhões de euros em infraestrutura anualmente e, portanto, há uma demanda urgente por financiamento. Segundo a declaração à qual Reuters teve acesso, eles afirma, que “os custos de planejamento e obras de construção estão aumentando. Os preços dos cabos de fibra óptica, por exemplo, quase dobraram no primeiro semestre de 2022. Da mesma forma, preços de energia e de outros insumos mais elevados também estão atingindo o setor de conectividade”.

Outros operadoras de telecom signatárias da declaração são Vodafone, Bouygues Telecom, KPN, BT Group, TIM Group, Telia Company, Fastweb e Altice Portugal.

Na visão das pequenas

Para um grupo de pequenas operadoras de telecomunicação, essa proposta de obrigar as Big Techs a arcar com parte dos custos da infraestrutura de rede na Europa distorceria o mercado e prejudicaria a concorrência.

Para o MVNO Europe, que reúne Sky, Freenet e a PosteMobile, entre outras empresas, Grandes players da área de telecom há muito se queixam que rivais do setor de tecnologia exploram suas redes. E, caso a Comissão Europeia aprove uma legislação que force as Big Techs a financiar os custos das redes, ainda que parcialmente, a onda de impactos financeiros pode chegar até aos MVNOs.

“Tememos que as contribuições sugeridas para investimento compartilhado em infraestruturas de rede prejudiquem seriamente a concorrência nos mercados de telecomunicações, inclusive as MVNOs. Em última análise, isso será prejudicial tanto para consumidores quanto para usuários corporativos”, afirmou o representante do grupo MVNO Europe.

O grupo teme que a proposta acabe gerando o resultado indesejado de que os maiores provedores de telecomunicações tenham seus serviços pagos não apenas duas vezes (pelos clientes e pelos provedores de conteúdo e aplicativos), mas até três vezes, ou seja, também por operadoras alternativas, que já estão pagando taxas de acesso às redes.

Ativistas de direitos digitais também estão alertando para os riscos que essa possível legislação pode trazer para a neutralidade da Internet.

Na visão de um dos grandes

Em respostas à investida das grandes operadoras de telecom, o Google comentou que essa é uma ideia antiga, com mais de 10 anos, ruim para os consumidores, afirmando a empresa já investia milhões em infraestrutura para Internet. Os comentários foram feitos por Matt Brittin, presidente de negócios e operações do Google na região EMEA.

“Introduzir um princípio do tipo ‘o remetente paga’ não é uma ideia nova e derrubaria muitos dos princípios da Internet aberta. Esses argumentos são semelhantes aos que ouvimos há 10 anos ou mais e não temos novos dados que tenham mudado a situação”, disse o executivo. Isso pode ter um impacto negativo nos consumidores, especialmente em um momento de aumento de preços, segundo o executivo, que citou um relatório do grupo pan-europeu de consumidores BEUC, descrevendo essas preocupações.

Brittin afirma que o Google tem feito sua parte. “Em 2021, foram investidos mais de € 23 bilhões em despesas de capital – grande parte em infraestrutura”. Isso incluiria seis grandes data centers na Europa, 20 cabos submarinos em nível mundial, com cinco na Europa e caches para armazenar conteúdo digital em redes locais em 20 localidades europeias.