Lições do criador do conceito de “data center as a computer”, falecido este mês

Montagem com foto de reprodução LinkedIn
Sheila Zabeu -

Setembro 27, 2023

O engenheiro brasileiro Luiz André Barroso que idealizou os modernos data centers do Google faleceu em 16 de setembro último aos 59 anos; já havia 22 anos que trabalhava na companhia.  Sundar Pichai, CEO da Alphabet e da subsidiária Google, lamentou a morte em um post no X (ex-Twitter), dizendo que Barroso esteve por trás de muitas das conquistas técnicas do Google, inclusive na área de data centers da empresa, sobre a qual inclusive escreveu um livro.

“Luiz via beleza em tudo, fosse na arquitetura de um galpão, em um acorde ou na asa de uma arara-azul. Sentirei falta dos nossos bate-papos sobre natureza, música e futebol, principalmente Brasil e Barcelona. Descanse em paz, meu amigo”, lamenta o executivo.

Segunda matéria da Wired, Barroso nunca havia projetado um data center até receber essa solicitação do Google. Elaborou o conceito de “data center as a computer”, construindo data centers com componentes de baixo custo, como os conhecemos hoje. Em um artigo de 2021 em seu site, em que agradece ter recebido o prêmio ACM-IEEE CS Eckert-Mauchly, edição 2020, por seu pioneirismo em design computacional em escala de armazéns e por levar o conceito à prática, Barroso comenta que sua experiência com desenvolvimento de software se mostraram extremamente útil no desafio de criar um novo ambiente computacional.

“Minha compreensão sobre a pilha de software do Google foi essencial para arquitetar o hardware necessária para operá-la. Publiquei alguns desses primeiros insights sobre os requisitos de arquitetura para cargas de trabalho do Google em um artigo da IEEE Micro em 2003”, explica Barroso no artigo.

E comenta que a falta de experiência em design data centers pode ter sido uma vantagem, pois questionamos quase todos os aspectos de como essas instalações eram projetadas. Talvez o mais importante tenha sido o fato de ter oportunidade de observar todo o design, desde as torres de resfriamento até os compiladores, e isso rapidamente revelou importantes oportunidades de melhora. A ideia de Barroso se espalhou rapidamente pelo Vale do Silício, entre os data centers de outros gigantes da Internet.

Ao final do artigo, Barroso compartilhou três lições que aprendeu na primeira metade de minha sua carreira:

1. Considere a estrada sinuosa: Embora sempre haja riscos quando se embarca em algo novo, a vantagem de ser aventureiro na carreira profissional pode ser incrivelmente gratificante.

2. Desenvolva respeito pelo óbvio: Problemas grandes e importantes problemas têm uma característica em comum: tendem a ser simples de entender, mas difíceis de resolver. Eles são óbvios e merecem atenção.

3. Mesmo o sucesso tem data de validade: Alguns dos momentos intelectualmente mais da carreira de Barrosa surgiram quando foi forçado a abandonar sua posição original tinha na qual investido tempo e esforços significativos e alcançado algum sucesso.

Barroso também foi responsável pelo desenvolvimento da aplicação de notificações de exposição à Covid, atuando como mediador entre equipes internas e parceiros externos.

Barroso nasceu no Brasil e tinha bacharelado e mestrado em engenharia elétrica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, fez doutorado em engenharia da computação na University of Southern California e trabalhou com processadores na Compaq e na Digital Equipment Corporation. Em 2001, passou a trabalhar no Google na área de engenharia de software.

Em 2023, passou a atuar no Conselho de Diretores da Stone, empresa brasileira que serviços financeiros e pagamento on-line. Também era membro da Association for Computing Machinery, da Associação Norte-Americana para o Avanço da Ciência e da Academia Americana de Artes e Ciências. De 2013 a 2019, fez parte do Conselho de Ciência da Computação e Telecomunicações das Academias Nacionais dos Estados Unidos.

Gostava de observar e fotografar a vida selvagem, além de ser apaixonado por música. Acompanhava sua esposa, a cantora e compositora Catherine Warner, no violão, e gravou um álbum de músicas norte-americanas e brasileiras dos anos 30 a 50 ao lado dos músicos Zeca Assumpção e Sergio Reze.