Internet das Coisas pode ajudar na distribuição de vacinas

Sheila Zabeu -

Maio 01, 2021

Como a IoT pode ajudar a distribuir vacinas contra a Covid-19 de forma ágil e segura para bilhões de pessoas? Depois do desafio de desenvolver e produzir imunizantes, esse tem sido o mais novo desafio imposto pela pandemia. Para se ter uma ideia, os fabricantes anunciaram que teriam disponíveis para distribuição mais de 12 bilhões de doses de vacina em 2021. Apenas como parâmetro de comparação, somente a primeira onda enviada para 92 países de baixa e média renda da COVAX já representará o dobro ou triplo do programa anual de vacinação rotineira da UNICEF.

Dessa forma, o planejamento logístico usado até então será colocado à prova por conta do enorme volume que deve ser transportado ao redor do mundo, especialmente em um momento em que se espera que a capacidade de carga aérea sofra queda geral de 20% a 25% prevista no primeiro e segundo trimestres de 2021, segundo a McKinsey. Há ainda de se levar em conta a distribuição de dimensões maiores, como caixas de seringas, agulhas e kits de equipamentos de proteção individual. Para complicar o cenário, há riscos de desvios desses produtos e também das vacinas, que demandam soluções de segurança.

Além disso, as condições em que o transporte dos imunizantes deve ser realizado e como devem ser acondicionados são desafiadoras. Por exemplo, as vacinas da Pfizer-BioNTech demandam instalações refrigeradas a -70 ℃, enquanto as da Moderna devem ser mantidas a
-20 ℃.

No jargão logístico, esse esquema para levar produtos sensíveis à temperatura da origem ao destino é conhecido por “cadeia fria”. Deve incluir os sistema de distribuição e acondicionamento, seja por transporte rodoviário, aéreo, marítimo, além das centrais de distribuição. No caso das vacinas, devem ser  levadas desde as unidades de produção das empresas farmacêuticas aos milhões de locais de vacinação espalhados pelo mundo, onde também devem ser armazenadas adequadamente.

A gestão da cadeia fria é um cenário perfeito para a aplicação de soluções IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas), não apenas para a distribuição de vacinas, mas também de tantos outros produtos sensíveis à temperatura. Em muitos casos, a verificação da temperatura ao longo das cadeias frias é feita manualmente, e os resultados são registrados em planilhas ou em banco de dados on-line. Como garantir que esses valores realmente refletirão a realidade durante todo o transporte? E se a temperatura flutuar muito durante o trajeto? Os produtos poderão estar deteriorados, e isso não será detectado.

Sensores IoT podem ajudar na checagem contínua produtos sensíveis à temperatura, garantindo visibilidade das condições ao longo da cadeia fria, com monitoramento da localização e do status dos itens – por exemplo, a temperatura – em tempo real e coleta de dados para análise futura e ajustes recomendados. Os dados coletados podem ser consultados por agentes autorizados em qualquer parte do mundo. Além disso, alarmes podem ser emitidos, por exemplo, em caso de variações anormais de temperatura ou qualquer outra condição que exija alguma ação corretiva. Recursos de GPS acoplados ao dispositivos de IoT podem levantar dados de localização onde mais ocorrem problemas, tudo isso de forma altamente automatizada.

Todos esses e outros benefícios somados vão resultar em menos prejuízos decorrentes de perda de produtos por acondicionamento indevido. Em era de pandemia e busca acelerada por vacinas, tempo não poupará apenas dinheiro, mas principalmente vidas.

Logística já é também uma área que pode contar com soluções na modalidade “as a service”.  Uma parceria recente entre a empresa de semicondutores Qualcomm Technologies e a provedora de soluções de dados de cadeia de suprimentos Cloudleaf tem uma oferta chamada Logistics-as-a-Service (LaaS), que incorpora componentes da Qualcomm e a plataforma de visibilidade digital da Cloudleaf para assegurar uma visão completa de cadeias de suprimentos complexas, como são as cadeias frias, contando com tecnologias IoT, bem como inteligência artificial, aprendizado de máquina e redes 5G.

E, ao contrário do nome “cadeia fria”, esse é um mercado bem aquecido, pois a complexidade envolvida na gestão acarreta um custo adicional. Estima-se que os gastos mundiais com logística da cadeia fria no setor de biofarma somarão cerca de US$ 19,1 bilhões em 2022, em um mercado global de logística farmacêutica de US$ 94,4 bilhões.