Instituto quer ser referência na avaliação de soluções de saúde digital

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Sheila Zabeu -

Julho 31, 2023

Um novo instituto sem fins lucrativos criado pelo Peterson Center on Healthcare vai fazer avaliações independentes de tecnologias inovadoras voltadas para melhorar a saúde das pessoas e reduzir os custos da área. O Peterson Health Technology Institute (PHTI) contará com US$ 50 milhões para realizar análises rigorosas baseadas em evidências dos benefícios clínicos e dos impactos econômicos de soluções digitais, bem como seus efeitos na equidade, na privacidade e na segurança dos dados de saúde.

Na visão do novo instituto, as tecnologias digitais têm um enorme potencial para melhorar tanto a vida das pessoas quanto o desempenho dos sistemas de saúde, revolucionando a prestação de serviços, aprimorando a experiência dos pacientes e promovendo a equidade, ao mesmo tempo em que podem ajudar a reduzir custos.

No entanto, informações sobre a eficácia e o desempenho de muitas novas ferramentas digitais de saúde são limitadas. O PHTI quer eliminar essa lacuna de informações com avaliações independentes e disponíveis ao público em geral. O instituto estabelecerá uma estrutura de avaliação desenvolvida especificamente para ferramentas digitais de saúde, em parceria com o Institute for Clinical and Economic Review (ICER), reconhecido no setor de economia da saúde e pesquisa de resultados.

“A tecnologia tem poder para transformar o setor da saúde, melhorando os resultados para milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, reduzindo os custos que não param de crescer. Está claro que as ferramentas digitais e a Inteligência Artificial podem oferecer uma série de benefícios aos pacientes, mas não temos uma compreensão adequada do que funciona e quanto deve custar. Ao produzir pesquisas independentes baseadas em evidências sobre tecnologias emergentes, o Peterson Health Technology Institute vai ajudar a melhorar e acelerar a inovação em saúde nos Estados Unidos”, afirma Michael A. Peterson, CEO da Peter G. Peterson Foundation.  

O PHTI vai monitorar o pipeline das tecnologias digitais emergentes para saúde e informar melhor os responsáveis por aquisições e investidores. O instituto coletará e analisará dados e evidências relevantes sobre o desempenho clínico das tecnologias e, por meio dessas avaliações, identificar e destacar as inovações digitais mais promissoras, além de relatar os produtos que não estão efetivamente entregando os benefícios declarados aos pacientes e aos sistemas de saúde.

“Com as ferramentas digitais de saúde substituindo e incrementando os cuidados de saúde tradicionais, é preciso que elas ofereçam melhores resultados e mais acessibilidade. Para a tecnologia contribuir para um sistema de saúde mais eficaz e eficiente, pacientes, prestadores de serviços e responsáveis pelos pagamentos precisam de melhores informações sobre o que funciona”, afirma Caroline Pearson, diretora executiva do Peterson Center on Healthcare.

Apenas nos Estados Unidos, o investimento em saúde digital aumentou quase 10 vezes, somando US$ 15,3 bilhões. Apesar desse valor significativo, a maioria das ferramentas digitais carece de evidências suficientes sobre seus benefícios clínicos.

Por isso, o Peterson Health Technology Institute quer desempenhar um papel relevante ao eliminar o burburinho em torno das novas tecnologias digitais de saúde e os interesses comerciais por trás delas. “A avaliação independente das ferramentas digitais para saúde não é apenas uma ótima prestação de serviço público, mas também pode ajudar a tornar a indústria mais rigorosa e concentrada em contribuições que atendam às demandas mais urgentes por informação, atendimento de qualidade, eficácia e eficiência”, destaca Helen Darling, ex-presidente e CEO do National Business Group on Health e membro do conselho do Peterson Center on Healthcare.

O Peterson Center on Healthcare é uma organização sem fins lucrativos dedicada a garantir saúde de alta qualidade e mais acessível aos norte-americanos. Trabalha para dar o sistema de saúde dos Estados Unidos resultados de alto desempenho por meio de soluções inovadoras que melhoram a qualidade dos serviços e reduzem custos.

Poucas evidências

Um estudo abordou o crescimento do setor de saúde digital nos Estados Unidos e a necessidade de medir o impacto dos investimentos nesse segmento. Revelou que, em muitos casos, há pouca validação clínica e muitas soluções não são apoiadas por evidências clínicas robustas. Também há evidências de que algumas alegações feitas por empresas de saúde digital são enganosas, com alguns casos altamente divulgados resultando em ações na justiça daquele país.

Além disso, a maioria dos estudos com foco em impactos clínicos é restrita a áreas terapêuticas clínicas específicas, com tratamento de diabete e arritmia cardíaca, dificultando a extrapolação dos resultados para um campo mais amplo da saúde digital. Outros estudos examinaram tendências clínicas mais amplas, mas muitas vezes faltam dados sobre foco clínico e no paciente. Para tornar a situação mais obscura, nenhum estudo examinou o rigor clínico e as declarações públicas feitas pelas empresas desenvolvedoras das ferramentas digitais para saúde.

Os resultados do estudo indicam que muitas startups de saúde digital apoiadas por capital de risco têm robustez clínica limitada. Há, no entanto, uma minoria considerável (20%) que parece apresentar soluções rigorosamente testadas. Embora essa subpopulação represente um avanço, a falta de validação clínica relevante para quase metade das empresas de saúde digital (com 44%, zerando na pontuação de robustez) destaca uma grande lacuna no rigor clínico das tecnologias de saúde atuais.