Especificação eSIM para IoT ganha nova versão

Sheila Zabeu -

Junho 29, 2023

A GSMA, organização global que unifica ecossistemas em torno da conectividade móvel, anunciou em maio passado uma nova versão da especificação eSIM para Internet das Coisas (IoT), a SGP.32 v1.0. Mas o que isso significa na prática?

Antes de tudo, é preciso comentar sobre a importância do eSIMs para IoT. Ao contrário dos cartões SIM tradicionais que são estruturas similares aos usados em celulares, os eSIMs (embedded SIMs) são soldados ao circuito dos dispositivos e podem ser configurados remotamente para mudar de operadora ou rede móvel, sem a necessidade de trocar fisicamente o cartão. Além disso, pode ser instalado de fábrica ou mesmo ser implantado ao nível global e configurado de acordo com onde ficará instalado. Isso se traduz em uma flexibilidade considerável para implementações de IoT de grande escala ou regionalmente distribuída. 

Anteriormente, além da especificação eSIM para o mercado de consumo, falava-se de uma versão para universo M2M. Dada a maior variedade de casos de uso para IoT, esta última especificação eSIM agora é mais amplamente voltada para IoT, considerando critérios como tamanho, memória e consumo de energia. Em poucas palavras, ela foi ampliada para facilitar a implantação de eSIMs em aplicações IoT de grande escala e oferecer a capacidade de controlá-los remotamente. 

Conforme a consultoria Analysys Mason, “a nova especificação eSIM da GSMA para IoT aprimora a versão anterior para impulsionar mudanças significativas na cadeia de valor da IoT”. A previsão da consultoria é que levará algum tempo para a nova especificação ser adotada.

Segundo relato da Analysys Mason, a especificação original da GSMA para implantações M2M contou com a contribuição de vários grupos, como fornecedores de SIMs e chipsets, operadoras de serviços de redes móveis (MNOs) e, em particular, de fabricantes de peças automotivas. Natural, então, que a especificação tivesse um foco maior nesse segmento, que não precisava dar muito atenção a dispositivos de baixo consumo de energia. Em certa medida, também atendeu às MNOs ao incluir recursos que não estavam presentes na especificação eSiM para o mercado de consumo.

A nova especificação SGP.32 v1.0 traz avanços em dois pontos principais, segundo a consultoria:

  • Processo de troca de perfis: O provisionamento de perfil não é mais gerenciado pela MNO, mas pelo fornecedor do SIM ou pelo fabricante do dispositivo.
  • Compatibilidade com aplicações NB-IoT/LTE-M: Antes se dependia de protocolos SMS para facilitar o processo de troca de perfis, mas o NB-IoT não é compatível com SMS. Também havia problemas no uso de eSIM com dispositivos LPWA, pois o provisionamento de perfis poderia esgotar a vida útil das baterias dos dispositivos IoT. A nova especificação pode fazer o provisionamento de perfis sem SMS e, de modo mais geral,  atender a requisitos de baixo consumo de energia de dispositivos NB-IoT/LTE-M.

Com a voz, o pai da especificação

Em entrevista ao site IoT for All, Saïd Gharout, da Kigen, líder do grupo de trabalho da GSMA que define a especificação SGP.32 para eSIM IoT, o mundo da Internet das Coisas está se movendo na direção da nuvem e dos dados hiperconectados, sendo importante simplificar o provisionamento remoto para vários casos de uso de IoT. Então, para aqueles que buscam criar componentes ou implantações compatíveis com os padrões GSMA, a especificação SGP.32 explica como fazer.

A nova especificação traz dois documentos principais e documentos de teste e conformidade para garantir que as soluções seja interoperável. Também é recomendável consultar as especificações para o mercado de consumo SGP.21 v2.4 e SGP.22 v2.5 que estabelecem requisitos, arquitetura e descrição dos eSIMs.

Conexões de IoT usando a tecnologia eSIM atingirão o volume de 195 milhões até 2026, em comparação com o patamar de apenas 22 milhões em 2023, crescimento de 780% nos próximos três anos ao nível mundial. E quem impulsionará a adoção crescente do eSIM nesse período será o segmento “eIM” ou eSIM IoT Manager, segundo um estudo da Juniper Research.

Segundo esse relatório, as atuais soluções de provisionamento de eSIM impedem o crescimento de eSIMs no mercado de IoT, limitando o número de dispositivos que podem ser provisionados e gerenciados por meio de uma única interface. De outro lado, as soluções eIM reduzirão o custo das implantações ao permitir que várias conexões sejam implantadas simultaneamente. Com isso, a proposta de valor dos casos de uso de eSIM que exigem implantações em massa será muito mais interessante dos pontos de vista financeiro e operacional.

O potencial por trás do eIM é enorme, visto que somente 2% de todos os eSIMs em uso serão atribuídos ao setor de IoT em 2023, segundo o estudo. Com o aumento da adoção de ferramentas eIM, o crescimento das conexões eSIM para IoT nos próximos três anos ultrapassará o do setor de consumo que inclui smartphones. Até 2026, 6% dos eSIMs serão atribuíveis ao setor de IoT mundialmente falando.

O relatório identificou dois setores principais que se beneficiarão do eIM: logística e extração de petróleo e gás. Até 2026, a expectativa é que esses dois mercados representem 75% dos eSIMs em uso globalmente, devido ao uso de processos de implantação em massa e a dependência de redes LPWA (Low Power Wide Area).