Equilíbrio é o novo desafio de projetistas de data centers 

Modern data center project
Sheila Zabeu -

Janeiro 27, 2023

Muitas ameaças ao desenvolvimento continuado de data centers vão se impor em 2023 e posteriormente. Embora o setor de infraestrutura digital tenha crescido rapidamente nas últimas décadas e a demanda por recursos computacionais e de armazenamento esteja mais forte do que nunca, as condições do mercado global estão mais difíceis atualmente. Em termos financeiros, serão o insistente preço elevado da energia, custos de construção e operação desses ambientes e orçamentos apertados. Entre outros elementos desafiadores, também seguiremos vendo escassez de mão de obra qualificada, questões associadas a mudanças climáticas e normas de sustentabilidade mais rígidas.

No entanto, isso não significa que haverá um desaquecimento na indústria de data centers, muito pelo contrário. A explosão da demanda por capacidade nesses ambientes vem atraindo a atenção de mais investidores em diversas categorias, entre elas capital, aquisições, imóveis e, cada vez mais, investidores em infraestrutura. Somente nos Estados Unidos, a demanda, em geral, medida pelo consumo de energia, deve atingir 35 gigawatts (GW) até 2030, acima do patamar de 17 GW registrado em 2022, segundo a McKinsey. Os Estados Unidos respondem por cerca de 40% do mercado global.

consumo energia dat center
Fonte: McKinsey

De acordo com uma pesquisa do Uptime Institute com previsões para 2023, a maioria dos proprietários e operadores de data centers entrevistados recentemente planeja expandir suas pegadas neste ano para atender a demanda por capacidade em alta. Entretanto, os operadores de data centers começarão a ter de enfrentar um dilema: como equilibrar processadores cada vez mais potentes e, simultaneamente, reduzir o consumo de energia?

Os servidores usados por data centers tiveram requisitos de energia e resfriamento relativamente estáveis por quase duas décadas, e, com essa estabilidade técnica, foi possível projetar instalações e retrofits com certa tranquilidade, ajudando a atrair investimentos.

Isso parece estar mudando. A pesquisa do Uptime Institute mostrou uma tendência consistente de aumento da densidade energética dos racks de data centers na última década. Ao contrário de algumas expectativas mais agressivas, o consumo de um rack típico permaneceu abaixo de 10 kW. No entanto, esse cenário ganhou um novo ritmo acelerado mais recentemente, e a tendência é de continuidade. E, segundo o estudo, o aumento da densidade energética não é devido exclusivamente a racks mais sobrecarregados. Também se deve ao maior consumo de energia por servidor, que está sendo impulsionado principalmente pelo surgimento em massa de servidores com processadores de maior potência atraentes pelo alto desempenho e, muitas vezes, pela melhor eficiência energética, se bem utilizados.

pesquisa do Uptime Institute
Fonte: Uptime

Então, se antes os projetistas de data centers conseguiam planejar com confiança e consistência a densidade energética e de resfriamento das instalações com base em um consumo estável e previsível por processador e outros componentes do servidor, esse cálculo hoje é muito mais complexo. A avanço acelerado da densidade de energia dos recursos de TI têm dificultado suposições de design plausíveis para ambientes que precisam ser tecnologicamente resilientes e sustentáveis ao longo de vários anos ou até décadas.

E processadores mais densos já são realidade. Modelos de gigantes como Intel e AMD, consumindo até 400 W, já estão circulando por aí. Processadores Intel Xeon Scalable de 4ª geração têm potência de design térmico (TDP) de até 350 watts, enquanto os processadores Epyc de quarta geração da AMD têm TDP de até 360 watts. E poderemos ver novos processadores para data centers com TDP de até 600 watts nos próximos anos, dificultando ainda mais estabelecer premissas de design para esses ambientes.

Esse novo cenário faz aumentar os riscos técnicos e de negócios. Custos adicionais por consequência de cálculos ou suposições incorretas em projetos de data centers podem ser significativos. Mais do que nunca, é preciso encontrar o equilíbrio ideal — de um lado, adotar uma postura muito conservadora, como abordagens de baixa densidade energética pode fazer com que o data center se torne rapidamente limitado ou mesmo obsoleto; de outro lado, ser tecnicamente agressivo, assumindo racks de alta densidade e reutilização de calor, pode gerar gastos excessivos em capacidade e recursos subutilizados.

“Em resumo, instalações construídas hoje precisam permanecer economicamente competitivas e tecnicamente capazes por 10 a 15 anos. Isso significa que certas suposições devem ser feitas por meio de especulação, sem que os projetistas conheçam realmente as especificações futuras dos racks de TI. Consequentemente, engenheiros e responsáveis pela tomada de decisão devem lidar com incertezas em torno dos requisitos técnicos dos data centers ao longo da segunda metade da década de 2020 e além”, ressalta Uptime Institute.

Hoje, mesmo os mais bem informados só podem especular, conclui o estudo.