China investe em plataformas RISC-V para data centers 

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Sheila Zabeu -

Outubro 12, 2022

O governo dos Estados Unidos publicou recentemente regras para impor mais controles de exportação à China, entre elas uma medida para impedir o acesso chinês a certos semicondutores fabricados em qualquer lugar do mundo usando ferramentas norte-americanas, expandindo assim a tentativa de retardar os avanços tecnológicos e militares da China.

As regras também bloqueiam uma ampla remessa de chips para uso em sistemas chineses de supercomputação. Elas definem supercomputador como qualquer sistema com mais de 100 petaflops de poder computacional em um espaço de 6.400 pés quadrados. Segundo a Reuters, as novas regulamentações podem atingir alguns data centers comerciais de gigantes de tecnologia da China.

Essas e outras proibições de exportação e restrições comerciais impostas nos últimos anos aos fabricantes de chips chineses têm forte relação com processadores x86 de empresas como Intel, AMD e Nvidia. Essa crescente pressão sobre a fabricação de chips na China tem impulsionado a atenção dos chineses à plataforma datacenter/?td=rt-3a" target="_blank" rel="noreferrer noopener">RISC-V, de acordo com um entrevista do analista Glenn O’Donnell, da Forrester Research, ao site The Register.

“Como a guerra comercial entre Estados Unidos e China está restringindo as vendas de processadores, fornecedores de infraestrutura e provedores de nuvem chineses precisam se adaptar para permanecerem vivos. Eles inicialmente se voltaram para a plataforma Arm, mas também existem restrições comerciais. Então, passaram a mostrar grande interesse no RISC-V”, afirma O’Donnell.

Por exemplo, a Academia Chinesa de Ciências, que está na lista de entidades sob a área de ação das restriççoes dos Estados Unidos, tem desenvolvido núcleos RISC-V de 64 bits de código aberto, com importantes atualizações de design a cada seis meses. “Queremos ver empresas como a Red Hat para RISC-V”, disse Yungang Bao, professor do Instituto de Tecnologia da Computação da Academia Chinesa de Ciências durante uma apresentação recente no RISC-V Summit em São Francisco.

Também trilhando caminho semelhante, ainda que longe dos data centers, a Alibaba Cloud, braço de tecnologias digitais e inteligência do Alibaba Group, revelou uma plataforma de desenvolvimento de chips chamada Wujian 600, voltada a ajudar o design de SoCs de alto desempenho para computação edge-IA usando arquitetura RISC.

No entanto, há quem não veja o RISC-V como uma boa opção para uso em ambientes mais exigentes em termos de poder computacional, como data centers. Dermot O’Driscoll, vice-presidente de soluções da Arm, reconhece que o RISC-V está se monstrando competitivo contra a designer de chips britânica, mas ressalta que o concorrente só chegou mais recentemente a produtos comerciais. A Arm parece não estar preocupada com a plataforma RISC-V, principalmente no campo dos data centers onde têm atuado fortemente.

“Realmente não vemos o RISC-V como um grande concorrente para nós no espaço dos data centers nem agora nem em um futuro próximo”, comenta Chris Bergey, vice-presidente sênior e gerente geral de negócios de infraestrutura da Arm, caracterizando o rival como sendo mais adequado para nichos ou aplicações especializadas.

Já para O’Donnell, RISC-V é uma arquitetura e é possível projetar processadores poderosos em qualquer arquitetura.

Não é só a China

Para se proteger contra sanções dos Estados Unidos por conta da guerra com a Ucrânia, a empresas russas, como Yadro e Elbrus, também estão desenvolvendo núcleos RISC-V como alternativa aos processadores x86 e Arm. A Europa é outra região que também está investindo em RISC-V para minimizar os riscos de barreiras comerciais no mercado de semicondutores, segundo o site The Register.

A SiFive, empresa fornecedora de chips RISC-V, revelou que seus processadores RISC-V multi-core SiFive Intelligence X280 estão sendo usados para gerenciar cargas de trabalho de Inteligência Artificial nos datacenters do Google.

A RISC-V é plataforma de código aberto desenvolvida pela Universidade da Califórnia em Berkley em 2010, com base no conjunto de instruções RISC. É considerada flexível por dar aos designers de chips a capacidade de personalizá-los com base em extensões modulares para diferentes cargas de trabalho. Mesmo com essas extensões, as soluções têm a garantia de continuarem seguindo o padrão.

A abordagem modular do RISC-V ajuda a atender à crescente demanda por núcleos especializados, como IPU, VPU, NPU ou TPU. Além disso, o ecossistema do RISC-V fornece ferramentas e recursos de desenvolvimento compartilhados que asseguram infinitas oportunidades para criar soluções inovadoras em comparação com plataformas proprietárias.

Vale lembrar que a arquitetura de chip de código aberto RISC – V oferece custos mais baixos e maior acesso, mas seu futuro no mercado é tudo menos certo. A Deloitte Global prevê que o mercado de núcleos de processamento RISC – V dobrará em 2022 em relação ao que era em 2021 – e dobrará novamente em 2023, à medida que o mercado endereçável continua a se expandir. Quem será impactado pelo RISC – V ? De startups a fabricantes de chips e fundições, a resposta varia dependendo de para quem você pergunta. O tempo dirá se o RISC – V se firmará em uma indústria dominada por poucos.

O mercado de núcleos de processamento RISC-V dobrará em 2022