Amazon se prepara para oferecer Internet via satélites de órbita baixa

Sheila Zabeu -

Abril 14, 2022

O anúncio recente da Amazon promete intensificar o mercado de acesso à Internet via satélites de órbita baixa (Low Earth Orbit – LEO). A Amazon fechou acordos com três empresas de lançamento de foguetes para levar ao espaço sua constelação de satélites Kuiper e assim diversificar sua linha de serviços de TI, fornecendo banda larga de baixa latência a localidades sem conexão confiável à Internet, por exemplo.

Os acordos foram assinados com as empresas Arianespace, Blue Origin e United Launch Alliance (ULA) e reúnem 83 lançamentos ao longo de um período de cinco anos. São 38 lançamentos no foguete Vulcan Centaur da ULA, 18 lançamentos no Ariane 6 da Arianespace e 12 lançamentos no New Glenn da Blue Origin, com opções para 15 lançamentos extras. A meta é contemplar a maior parte da constelação de 3.236 satélites. Segunda a Amazon, trata-se da maior aquisição comercial de veículos de lançamento da história.

“O projeto Kuiper vai fornecer banda larga rápida e acessível para dezenas de milhões de clientes em comunidades não atendidas ou mal atendidas em todo o mundo”, afirma Dave Limp, vice-presidente sênior da Amazon Devices & Services. “Esses acordos de lançamento refletem nosso compromisso e crença no Projeto Kuiper”, completa o executivo.

A Amazon diz estar projetando e desenvolvendo todo o sistema internamente, combinando uma constelação de satélites de órbita baixa com terminais pequenos e acessíveis e uma rede de comunicações terrestre segura e resiliente. O Projeto Kuiper também vai ajudar a aprimorar a logística global e as operações da Amazon, bem como a rede e a infraestrutura da Amazon Web Services (AWS) com a finalidade de atender uma base de clientes mundial e diversificada. O projeto Kuiper também vai aplicar a experiência da Amazon na produção de dispositivos e serviços de baixo custo, como Echo e Kindle, para oferecer serviços a preços acessíveis.

Outro objetivo desses contratos é impulsionar o setor de serviços de lançamento, com inovação e geração de empregos nos Estados Unidos e na Europa.

Quanto custa e concorrência

O custo para produzir antenas para a constelação do projeto Kuiper já está “bem abaixo de US$ 500”, segundo a Amazon. “Na verdade, acho que podemos diminuir ainda mais, mas quando se chega a US$ 500, pode-se começar a pensar em modelos de negócios amplamente escaláveis globalmente”, disse Limp durante o 37º Simpósio Espacial. A Amazon não divulgou informações sobre preços de equipamentos ou serviços de Internet relacionados ao projeto.

De outro lado, SpaceX, de Elon Musk, apresentou no início do ano satélites LEO que prometem velocidades mais altas e maiores taxas de transferência, pelo custo de uma taxa única de US$ 2.500 referente ao hardware e mais US$ 500 por mês pelo serviço. Já os modelos Starlink básicos cobram cerca de US$ 500 pelo hardware e US$ 100 por mês pelo serviço. Em janeiro, Starlink afirmou ter mais de 145.000 usuários em 25 países e cerca de 1.800 satélites em órbita.

E esses valores podem cair ainda mais. O Boston Consulting Group (BCG) estima que o custo dos terminais estará na faixa entre US$ 130 e US$ 300 até 2030.

No entanto, em uma coluna da FierceWireless, o analista Tim Farrar destaca algumas barreiras para a adoção de satélites LEO. Por se moverem pelo céu – diferentemente dos satélites geoestacionários (GEO), são mais propensos a sofrerem interferências. Além disso, há restrições de capacidade devido à faixa de espectro disponível para LEOs.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, a corrida para implantar constelações de satélites LEO será cada vez mais concorrida. A União Europeia, por exemplo, anunciou planos envolvendo um sistema de satélites LEO no valor de € 6 bilhões para garantir cibersegurança e resiliência em comunicação e melhor acesso de banda larga à região.

Até o momento, para rivalizar com a SpaceX de Elon Musk e agora com o projeto Kuiper de Jeff Bezos, da Amazon, o equivalente europeu mais próximo é a OneWeb, que pediu falência e, 2020 após o surto de Covid-19 e agora é liderada pelo governo do Reino Unido e pela multinacional indiana Bharti Global e pela Eutelsat da França.

A previsão é que o mercado de satélites LEO seja avaliado em US$ 19,8 bilhões em 2026, com um CAGR de 15,5%. Em termos tecnológicos, esses satélites podem ajudar a acelerar ainda mais a digitalização dos negócios e a adoção de soluções Internet das Coisas (IoT), em especial, em áreas mais remotas ou com ampla cobertura de terrenos, como áreas de agricultura. Nos centros urbanos, podem contribuir no desenvolvimento de cidades, sistemas de transporte e centrais de logísticas mais inteligentes, por exemplo.