A IA é hoje aliada dos gestores de data centers

Cristina De Luca -

Junho 24, 2021

Gerenciar data centers, muitas vezes, é visto como uma tarefa parecida com equilibrar pratos giratórios – exige encontrar o melhor balanço entre administrar cargas de trabalho e equipes de TI, elevar a eficiência e cortar custos. Mais recentemente, esse trabalho tem ganhado a ajuda de uma parceira de peso – a Inteligência Artificial (IA).

A IA promete ser uma ótima aliada no gerenciamento automático das tarefas realizadas nos data centers, liberando assim os profissionais de TI para realizar tarefas que realmente exigem a intervenção humana. Além disso, as ferramentas usadas até então tendem apenas a dar respostas aos problemas que surgem nesses ambientes, mas não exploram dados para realizar previsões, reduzir a incidência de problemas e otimizar recursos, como podem fazer as soluçoes de IA, destaca Sean Kenney, diretor da KPMG.

Tecnologias de IA, por exemplo, ajudam a prever demandas e alocar recursos de maneira mais eficiente, permitindo que os data centers se tornem mais flexíveis e mais econômicos. Um desafio muito encontrado no ambiente de data centers é justamente como melhor atender aos picos de demanda. Nesse campo, a IA pode revelar padrões de carga de trabalho ao longo do tempo e propor meios para processar as demandas de acordo com a capacidade disponível nos data centers, explica Goutham Belliappa, vice-presidente de engenharia de IA da Capgemini para América do Norte.

Além disso, as tecnologias de IA podem contribuir em áreas que estão ganhando espaço na pauta das organizações, como a redução de emissões, ao administrar a temperatura dos equipamentos e otimizar o consumo de energia. De quebra, ajudam também a diminuir os custos operacionais. Outro campo de ação da IA é  a manutenção, prevendo com muito mais antecedência eventuais problemas causadores de paralisações e evitando assim períodos de inatividade.

Ainda que ideia de aplicar a IA na gestão de data centers não seja nova, o que está surgindo com o amadurecimento da IA são ferramentas baseadas uma combinação de várias técnicas de autoaprendizagem, que é continuamente otimizada com base nos padrões de cargas de trabalho que gerenciam, com o mínimo de intervenção humana. Bill Howe, professor associado da Escola de Informação da Universidade de Washington, cita como exemplo sistemas de banco de dados que exigem configuração de muitos elementos para garantir eficiência, como tabelas de indexação, particionamento de dados em diferentes servidores, alocação de memória, entre outros. Nessa caso, a IA pode ajudar aprendendo regras e procedimentos a partir de dados históricos e ajustes que resultaram em mais eficiência para cada tarefa. Seria praticamente inviável um profissional fazer o mesmo por conta própria.

Somente para gente grande?

Grandes instalações de data centers já usam tecnologias de IA há vários anos como parte integrante de suas operações. O Google, por exemplo, reportou em 2016 como conseguiu alcançar reduções significativas no consumo de energia em alguns dos data centers com base na gestão automática de ventiladores e sistemas de resfriamento usando soluções da DeepMind, braço de inteligência artificial da holding Alphabet, detentora do Google. Em 2019, também relatou o uso de IA para prever com até 36 horas de antecedência o rendimento de turbinas eólicas usadas para suprir a demanda de energia de data centers e escritórios nos Estados Unidos.

A Alibaba Cloud implantou sistemas de alerta de temperatura baseados em IA em seu data center global. A solução analisa dados de monitoramento de sensores de temperatura em uma série temporal para identificar com mais rapidez e precisão alterações de temperatura devido a falhas nas instalações de resfriamento.

Resfriamento e manutenção preditiva foram as aplicações de IA em ambientes de data center mais citadas, de acordo com profissionais com quem o site DCD conversou no início de 2021. Gerenciamento de energia, gestão de cargas de trabalho e segurança são casos de uso em potencial que ainda não apresentaram um impulso significativo. “O potencial existe e está sendo demonstrado, mas ainda não está amplamente difundido”, destaca Dave Sterlace, diretor de tecnologia da área de soluções para data centers da ABB.

Fornecedores estão começando a incorporar as tecnologias de IA em seus produtos, muitas vezes com soluções pontuais, longe de serem capazes de gerenciar todos os aspectos do  data center, segundo a Juniper Networks. A dificuldade pode ser resultado do conjunto heterogêneo de equipamentos e sistemas  tipicamente encontrado nos ambientes de hoje.

E seu data center? Está preparado para embarcar na onda da IA? Para Jeff Kavanaugh, diretor do Infosys Knowledge Institute, a resposta dependerá da maturidade tecnológica, da escala de operações e da dinâmica do data center. Ambientes com infraestruturas e métodos obsoletos terão dificuldade para fazer a transição. Por outro lado, mais e mais fornecedores de tecnologias de IA estão oferecendo ferramentas para cada tipo e porte de organização, o que aumenta as chances de adotar a IA como aliada na gestão dos data centers.

No entanto, há de se ir devagar com andor. Mudanças sutis nos sistemas e nas práticas dos data centers podem não ser percebidas pelas técnicas de IA, já que são especializadas em identificar padrões mais estáveis de tarefas, explica Howe. Modificações drásticas  ou repentinas no ambiente podem não ser identificadas pelos modelos de IA e, infelizmente, você não terá a resposta mais adequada. Fique atento!